terça-feira, 26 de dezembro de 2017

VII - LISBOA

28/07/2017
Hoje fiz um passeio de barco pelo Tejo no final da tarde. Nas fotos abaixo a praça do Comércio, a ponte 25 de Abril, a Torre de Belém, que foi construÍda pelo arquiteto Francisco de Arruda, em estilo manuelino do séc. XVI  e o monumento Padrão dos Descobrimentos, de 1960.










NOTAS: 
1. Odeio esses portugueses metidos que falam fluentemente inglês e francês!! Enquanto eu claudico em ambos*, eles dominam com elegância o idioma de Shakespeare e, a maioria também, o de Molière. 
(*) Mas o idioma português, este pelo menos, conheço bem, viu Gelsa Helena. 

2. Continuando com as notícias sobre o Brasil publicadas no DN de Lisboa: sexta saiu uma matéria sobre o uso de tornozeleiras eletrônicas (que eles chamam de pulseiras [?] eletrônicas) pelos presos da Lava Jato. Comenta que aqueles que estão em prisão domiciliar vivem em mansões com piscina ou cobertura de frente para o mar. Cita também o ex-senador Delcídio do Amaral, que vive em sua fazenda no Mato Grosso do Sul.  
Lembrei do genial artigo do Roberto Pompeu de Toledo, na revista Veja de 26/07 intitulado "Minha doce prisão", onde ele sugere que deveriam cumprir a pena em um Conjunto Habitacional do Minha Casa Minha Vida, não a do Lula no Guarujá, mas uma verdadeira, com direito a bala perdida e tudo. 

30/07/2017
Na Europa os jardins são amplamente usados pela população e não somente espaços de circulação como são no Brasil onde, ainda tem aquela plaquinha infame de "não pise na grama".  
Aqui vemos gente deitada na grama, dormindo nos bancos ou lendo livros. São espaços feitos para uso e abuso das pessoas, como nas fotos abaixo:  



Hoje fui ao Centro Cultural Belém, onde tem lojas, galerias, cafeterias, teatro e cinemas. Também um jardim, o Jardim das Oliveiras, onde é disponibilizado pufes para as pessoas deitarem debaixo das árvores. Passei a tarde lendo e cochilando. Na foto, ao fundo o Padrão do Descobrimento. 


 Abaixo, uma belíssima escultura de Calder.
 

No mês de agosto haverá, no CCB, do dia 1o. até o dia 10 concertos diários de música clássica e nos Jardins das Oliveiras às quintas e sábados, até o final do mês,  música popular. Pena que seja um pouquinho longe, tenho que pegar 2 ônibus porque não tem métro para Belém.


31/07/2017
Começo hoje uma nova fase da viagem. Abro um arquivo de fotos para cada viagem: Lisboa, Madri, Valência...novamente Lisboa, etc. Mas estas são também determinadas pelas mudanças dentro de Lisboa, pelo local onde estou hospedada, daí porque tem Lisboa 1,2,3 e agora 4. 

Hoje saí de Rato e mudei para Saldanha. Estou agora na rua Pinheiro Chagas n.8. No Saldanha Prestige, uma guesthouse cuja proprietária é a Dra.Maria e o telefone é +351 914 184 460 (é sempre  importante deixar aqui registrado o endereço onde me encontro, caso precise ser localizada, por vários motivos, como: desapareci, fui sequestrada (rsrsrs) ou estou sem telemóvel. Uma vez li que as pessoas, quando chegam em um país estrangeiro, deveriam ir a embaixada do seu país e deixar o endereço onde estão hospedadas. Mas isso tudo foi antes do telemóvel (celular). Hoje você já comunica na hora os familiares e amigos onde se encontra e ainda manda fotos via whatsapp.

A mudança de endereço envolve novos referenciais e novas interações com o lugar. Por ex. em Rato, circulava entre o Cais de Sodré e a Praça Camões e agora voltarei a frequentar o Museu Gulbenkiean (para onde posso ir a pé) e, provavelmente, voltarei também ao Starbucks Café, no El Corte Inglês. Interiorizei e fiquei mais distante do meu amado Tejo mas estou perto de outras paisagens igualmente belas como são os jardins do Gulbenkien.  

Na minha primeira estadia em Lisboa fiquei em Campo Pequeno, onde tem a Praça dos Touros, ao lado de Saldanha e agora estou no centro de Saldanha, quase na rótula. O local tem boas lojas e alguns centros comerciais, além de muitos cafés. Tem um Nicola (um dos mais tradicionais da cidade) bem em frente. É um bairro classe média alta, moderno e muito diferente do resto da cidade. Adorei o local assim como ter mudado, não só de casa, mas também de cenário.


01/08/2017
Abaixo algumas cenas engraçadas. As fotos abaixo foram feitas em Lisboa e mostram a diversidade de cultura, de credos e raças deste país. Outras, ainda, mostram as suas contradições, como a foto do mendigo que dorme na rua, que tanto pode ser um alcoólatra como também um imigrante pobre








Chama a atenção, aqui em Lisboa, a quantidade de negros que encontramos pela cidade. Aqui  eles andam de transporte coletivo e frequentam os mesmos locais que todo mundo, não estão confinados em guetos, como no Brasil. Você os vê nas lojas, restaurantes e bares que são também frequentado por "brancos" da classe médio e turistas. Mas, embora frequentem os mesmo lugares que os brancos, eles são somente tolerados, não são verdadeiramente aceitos. 

A foto acima foi feita na cidade do Porto. A garota parece ter saído da vitrine de bonecas. E, abaixo um exemplo de paises democrático e igualitários. A foto do casal gay foi feita em Valência. Da península ibérica, a Espanha é a mais evoluída. Em Portugal nunca veria uma cena igual, enquanto que lá elas são frequentes.

 
E, abaixo a diversidade religiosa encontrada em Madri.

 



Abaixo são velhinhos aguardando o atendimento em um posto de saúde pública. Chama a atenção a limpeza, a boa conservação do espaço interior e a não existência de filas para atendimento. Porém, aqui cobram uma taxa, embora pequena, para as consultas. Mas demorei um pouco para ser atendida, passaram alguns pacientes na minha frente e só depois que reclamei é que me atenderam. Dizer que não existe discriminação alguma em relação aos imigrantes, também é mentira.


A foto abaixo fiz em Rato que, como disse anteriormente, é um bairro de classe média alta. Acabava de ir a uma farmácia, a noite, e fui atendida por um buraco no vidro da porta (como nos guichês) servindo para proteção do vendedor - o que só tinha visto em filmes americanos, nunca no Brasil. Ainda falam do Brasil como se só aí houvesse violência. 
Outro dia uma lisboeta me disse que não moraria em um rés-do-chão (térreo) porque tinha medo de assalto. "Como assalto, perguntei, aqui tem isto? Pensei que fosse só no Brasil", falei irônica.
Tenho também uma amiga que mora na Suécia que deixa sempre alguém no apartamento porque já entraram 3 vezes, enquanto ela esteve viajando. Isso que mora perto da embaixada do Brasil - ou vai ver que é a proximidade com o terceiro mundo!




03/08/2017
A fachada inusitada da entrada deste palácio esconde um tesouro que vai-se descortinando à medida que se avança por um do pátio interno. 
Com a destruição do palácio real na Praça do Comércio, em 1755, durante o terremoto, D. José construiu no alto da Ajuda um palácio de madeira (havia o receio de um novo terremoto e uma construção de madeira ofereceria menos perigo) que durou 3 décadas. 
Em 1794 um enorme incêndio destrói o que era chamado de Paço de Madeira e em 1795 D. João VI começa a construção deste que é hoje o Palácio Nacional da Ajuda.  
Em 1807 a família real precisa fugir para o Brasil e as obras do palácio são abandonadas, sendo retomadas em 1813. Em 1860 a rainha Maria Pia de Saboia, filha de Victor Emanuel, rei da Itália, casada com Luiz I comanda a decoração interior dando-lhe a atual suntuosidade.  







 
    





Não contei quantos lugares tem esta mesa de banquete, mas deve ter uns 500, hoje usada nas recepções aos chefes de Estado. Abaixo uma amostra da belíssima louçaria utilizada nas cerimônias oficiais.






Abaixo o quarto da rainha Maria Pia com dossel e parede forrada em seda azul e mais abaixo o quarto do rei Luiz I, menos exagerado na decoração porem, mais refinado.
O que mais me chama a atenção nos quartos é a quantidade de portas que possuem (de 2 a 3 portas, em média), indicando não desfrutavam de intimidade alguma, o que talvez explique porque casamentos arranjados duravam tanto. 
O casamento com amor só surgiu quando a nobreza empobreceu e passou a conviver em espaços menores, com muito mais intimidade. 



Abaixo foto de D. Luiz I, apelidado de O Popular e ao lado D. Maria Pia de Sabóia. D. Luiz era um homem culto, de grande sensibilidade  artística, pintava, compunha e tocava violoncelo e piano. Fez traduções de obras de Shakespeare. Enquanto que, Maria Pia, a rainha consorte era conhecida como O Anjo da Caridade e A Mãe dos Pobres por seu envolvimento com causas sociais, embora fosse também amante de festas e da alta costura.




Na foto abaixo o jardim de inverno


04/08/2017
Estava em um autocar, indo para Belém, quando este parou e entraram 2 guardar. No painel luminoso vi o "aviso": Paragem: Senhor Assaltado Metro" e 2 rapazes loiros e 1 mulher com uma criança de feições latina-americanas saíram escoltados pelos guardas. 

NOTA: A história acima foi o maior mico que passei aqui. Contava esta história para a atendente de uma farmácia quando fiquei sabendo por ela que "Sr Roubado" é o nome de um lugar. Coincidiu que, naquele autocar, naquele momento, alguém fosse retirado de dentro do mesmo. Poderia ser porque não pagou a passagem mas, a associação foi imediata: um senhor foi roubado e acharam os contraventores pensei. Que mico!

Dirigia-me ao Centro Cultural Belém e depois pretendia assistir a um concerto, lá mesmo no jardim. Antes fora ao Jardim Botânico Tropical, próximo dali e, quando voltava para o concerto, recebi o convite de um gajo português para conhecer a noite lisboeta e voltei para Saldanha.
  

    
Atividades recreativas para crianças oferecidas pela administração do parque.



A noite fui, com o tal gajo, ao Hot Clube, por sugestão minha que queria conhecer o clube de jazz mais tradicional da cidade. Música, realmente, da melhor qualidade.



Depois fomos a um lugar mais alternativo, um casarão enorme, com vários ambientes com música popular portuguesa e brasileira atual. Neste da foto abaixo só tocavam música brasileira: Djavan e outros que não sei o nome porque só conheço Bossa Nova e embora goste de alguns, desconheço o nome da música, quando não, o nome do autor.



É comum encontrar cartazes anunciando shows da Gal Costa, da Ivete Sangalo, etc. O português não somente gosta muito da música popular brasileira como são também muito mais ligados as notícias do Brasil do que nos que fomos colônia. Eles sabem tudo que esta a acontecer no nosso país, sobre a crise política pela qual estamos passando, enquanto que, para nós, Portugal é só mais um país da Europa. 
Dos escritores, conhecemos somente Fernando Pessoa, Eça de Queiroz e Saramago - todos já mortos. Só tem uma coisa daqui que brasileiro conhece e gosta muito: a culinária, principalmente o bacalhau e os vinhos portugueses.


5/08/2017
Depois da noitada de ontem pelos bares da cidade, estou descansando e aproveitando para escrever no blog. Meu primo Beto, que esta sempre me enviando ótimas dicas sobre Portugal, enviou um vídeo do ator Pedro Cardoso, que deu um novo rumo às minhas reflexões sobre as diferenças entre Brasil e Portugal. 
Nele o ator, que atualmente mora em Portugal, fala sobre a necessidade louca que temos de ganhar dinheiro, ao contrário do europeu para quem aproveitar a vida: viajar, deitar numa grama e assistir a um concerto são suas prioridades. No Brasil vivemos para fazer patrimônio, para deixar os filhos com o futuro garantido, onde tudo é permitido em nome do bem estar da família, como já dizia Sérgio Buarque de Holanda em "Raízes do Brasil". Justificando, assim, aos políticos arrumar um cargo público para o genro, levar uma comissãozinha aqui...e outra ali.

Segundo Pedro Cardoso a ganância do brasileiro por dinheiro é causada pela inexistência de um Estado que garanta lazer, saúde, educação e transporte público de qualidade. 
Precisarmos morar em condomínios caros para termos mais segurança, ter um carro para cada adulto da família, pagar por um plano privado de saúde e vivemos preocupados em poder pagar por tudo isto, não sobrando tempo nem dinheiro para aproveitar a vida. 





Enquanto o brasileiro só pensa em ganhar cada vez mais dinheiro aqui eles pensam em desfrutar da vida, em viver prazerosamente, sem estresse. Tudo proporcionado pelo Estado e, além dos jardins, que são muitos e belíssimos, há concertos ao ar livre durante o verão, também museus (e são  muitos) que nos 1os domingos de cada mês, são de graça. 


Nos países do leste europeu ainda tem as piscinas térmicas ao ar livre, as pistas de patinação, os clubes de dança - tudo de graça - para o lazer da população. E no Brasil? No Brasil a classe pobre faz churrasco na laje e a rica vai para o shopping. Tem a praia, mas não o ano inteiro.
Assim, para se viver no Brasil precisa-se de muito mais dinheiro do que aqui na Europa. Para uma vida confortável no nosso país precisamos  ganhar mais ou menos 20 mil reais/mês enquanto que, aqui viveríamos com a metade disto. Aqui vive-se confortavelmente com 2,50 euros, que corresponde a 10 mil reais no Brasil. 

Mas não só o custo Brasil explica nossa amor ao dinheiro. Creio que, soma-se a isto uma cultura de privilégios, que vem desde a monarquia. Gostamos de ostentar, de viver de aparências, escondendo nossa pobreza moral, intelectual e afetiva atrás de palácios e carros de luxo. O dinheiro também nos protege do olhar do Outro, do mendigo que pede esmola nas ruas da cidade. E nos protege, não da ameaça que estes possam representar (que é a história que inventamos e que nos justifica) mas da vergonha de sermos um país tão injusto.

Estamos longe de ser um país democrático. Somo um país dividido em castas: a dos ricos e a dos pobres - aqueles que andam de ônibus, que vivem em bairros sem segurança, sujeito a bala perdida e não tem direito à serviços de transporte, saúde e educação de qualidade. No Brasil alguns tem mais direitos que outros. 
Segundo Raymundo Faoro, em "Os Donos do Poder", tudo começou com D. João VI, com a distribuição de privilégios à pequena burguesia dando origem a  elite burocrática que, hoje, mesmo com 14 mi de desempregado no país, está a exigir aumento nos seus já bastante altos salários. 
A família real trouxe também a visão patrimonialista da coisa pública, daí o porque dos roubos na Petrobras, das propinas dos políticos e destes estarem sempre a meter a mão na arca da viúva sem o menor pudor.
Concluindo: viver no Brasil, não só é caro como é também decepcionante.

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A noite fui a um show de jazz no Museu Gulbenkien, no anfiteatro a céu aberto. O trompetista americano Dave Douglas, faz uma som mais experimental.  Gosto mais do jazz tradicional, de New Orleans, mas foi interessante.
  





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