terça-feira, 30 de abril de 2019

DESPEDINDO-SE DO RIO

29/04/2019
Mesmo ameaçando chover e alertada sobre os riscos de uma nova enxurrada, arrisquei e fui para o centro. Pretendia conhecer o Fika's Cafés Especiais, na rua do Carmo, centro do Rio. Deu certo e só caiu algum pingos e parou logo.
Mas, como estava indo à noite, também fiquei com um certo receio porque, para se chegar lá teria que passar por um beco estreito ao lado da Igreja Nossa Senhora do Carmo. Mas havia um grande movimento de pessoas saindo do trabalho e respirei aliviada.
O Café é um lugar muito agradável, tem uma decoração muito simpática e o atendimento é excelente. Um daqueles lugares que você já coloca na tua lista de preferidos, que hoje são três: a Zazá, no Leblon, o Armazém Carmelo, no Flamengo e agora o Fikas, no Centro. 
No Fikas tem o famoso café do Jacú, o pequeno custa 25 reais, preferi pedir o comum mesmo mas com lascas de limão ceciliano, o Café Fikas, delicioso! Pedi também um pão especial de ervas e ovo.Também muito bom.
















Ser carioca é gostar de ovo frito encima de qualquer prato. Carlos Heitor Cony


Para voltar, chamei um UBER mas, tive que esperar 20 minutos. Quinta irei novamente ao centro, na ABL, e vou preferir voltar de metrô.
30/04/2019
Hoje saí para ir ao Largo do Boticário mas antes passei no Café Ipiranga, também um dos meus cafés preferidos, descoberto no dia em que fui até o Palácio Guanabara. Não fica muito longe da Senador Euzábio e o melhor, é tem uma sobremesa com banana divina.  


Depois de fazer uma lanche no Café Ipiranga segui de UBER para Laranjeiras e depois até o Cosme Velho. A região toda é muito arborizada e no Cosme Velho há belos casarões antigos, muitos em mal estado de conservação.Na frente de alguns havia uma placa indicando que ali morou Austregésilo de Athayde e noutro, residiu o pintor Augusto Rodrigues. Roberto Marinho também morou no bairro, assim como a família do Eduardo, meu locador, neto de Osvaldo Aranha.
Abaixo está o Solar dos Abacaxis (seu nome vem dos abacaxis de ferro forjado nas grades das sacadas), um edifício neoclássico, de 1843, também bastante abandonado.
  


Conhecia o Largo do Boticário por fotos que, não sei se passaram por fotoshop porque foi choque ver o estado de decadência do local.
Estava no local um grupo de engenheiros fazendo um levantamento local para sua restauração. Conversando com eles, disse-lhes que o conjunto de prédios neocoloniais era muito bonito mas que que deveriam ser cedidos para bistrôs, lojas de luxo e, mesmo, para um hotel boutique pois seria uma forma de manter o patrimônio histórico (datado de 1920) bem cuidado. O entorno é formado por uma vegetação de mata atlântica exuberante




02/05/2019
"Ser carioca é padecer no paraíso."  Miguel Paiva        

Ontem, indo para o centro, peguei o ônibus errado e tive que andar um bocado até chegar ao café Fikas onde pretendia fazer um lanche antes de ir a ABL assistir uma palestra sobre Noel Rosa. 
Andando em direção ao Fika's Café ia observando os prédios antigos do centro da cidade, o chamado Rio Antigo, com seus belos sobrados. Mas, infelizmente poucos em boas condições de conservação. 

O Rio precisa de um grande projeto de recuperação da sua paisagem urbana.  A situação do Largo do Boticário é muito triste. Imagino que já exista um levantamento deste patrimônio todo publicado em livro. Se for hoje na livraria Travessa vou procurar. 




Cansada e morta de fome cheguei no Fikas que estava lotado e, como demoraram a me atender acabei perdendo a palestra na ABL que teria a apresentação do Zuenir Ventura, de quem sou fã.
Ainda cansada mas, decidida a não perder também o show de jazz, que pretendia ir depois da ABL. Segui para o TribOz - Centro Cultural Brasil-Austrália, o clube de jazz que fica perto da sala Cecília Meireles. 
Ficava longe mas, conclui que se chamasse um UBER naquele horário, 18 horas, hora do rush, levaria mais tempo e segui a pé.
Valeu a pena porque a cantora, Alma Thomas, tem uma voz, provavelmente, só igualada a uma Ella Fitzgerald, que cantou além de outros clássicos do jazz. Valeu a pena caminhar tanto. 



Conheci Lizete Dickstein, uma médica psiquiátrica, moradora do Botafogo e amante do jazz. Quando cheguei estava somente ela e um cara, também sentado só. Eramos assim, só 3 pessoas na platéia. Segundo a Lizete o Blue Note é mais frequentado. 
Acredito que pelo local onde o TribOz esta localizado, um beco escuro perto da escadaria Selarón afaste os amantes do jazz.  










sábado, 27 de abril de 2019

VIDA CARIOCA 5

27/04/2019
Hoje peguei o metrô e fui para a  Barra. Desci na Estação Jardim Oceânico e depois de andar  algumas poucas quadras cheguei ao Posto 2. Pela primeira vez ia a uma praia no bairro. 
Observei no entorno da Praça do Pomar, na altura do posto 2, que os prédios tem, no máximo 6 andares e ruas são bastante arborizadas



                                                                                         A orla não tem um paisagismo muito bonito mas há, entre a calçada e a praia, uma larga faixa de vegetação de restinga. E a praia é muito bonita, a areia é clara e o mar tem uma água, linda, transparente. 

Mas, ainda assim, havia um grande defeito: é uma praia barulhenta, com muitas caixinhas com música em alto volume, confirmando que este é um bairro de emergentes. 
Descobri que no posto 2 fica o famoso Bar do Pepê, bastante simpático. 







Quando voltava vi que ali perto havia um restaurante Paris 6 e pensei em fazer um lanche mas quando vi que só um sandwich Croque Madame custava 52 reais, desisti. 

28/04/2019
Carlinhos - que não gosta de cinema - foi para Guarapari ver a mãe e depois irá para NY encontrar com o namorado, o que me permitiu voltar as salas de cinema. 
E assisti 2 filmes deliciosos: "Meditation Park", um filme canadense que passa-se dentro de uma comunidade de  chineses e "Obra Prima" um filme argentino. Também fui assistir "Vidas Duplas" de Olivier Assayas, com Juliette Binoche e Vincent Macaigne. Embora tenha sido indicado ao Leão de Ouro no Festival de Veneza achei que é um filme inteligente, discute relação entre ficção e realidade - é a historia de um escritor que só consegue escrever sobre suas experiência de vida e acaba envolvendo as pessoas próximas dele - mas é também um filme muito verborrágico e cinema é antes de tudo imagem. 

Hoje fez 35 graus mas decidi ficar em casa lendo e, no final da tarde, ir a Sala Cecília Meireles assistir "Ilumina & Paul Lewis, piano". A sala tem uma acústica incrível e o programa não poderia ser melhor: Bach, Ravel, Bartók, Boccheri e Mozart. Foi simplesmente fantástico. 
Paul Lewis é um dos mais importantes interpretes do repertório clássico da Europa Central. Atua atualmente com a Filarmônica de Berlin e a Sinfônica de Londres. 

 

Como cheguei cedo, fui até a Escadaria Selarón, um lugar bastante frequentado pelos turístas.

 

Continuando a caminhada, entrei em um Hostel/Hotel ao lado da Sala CM, que fica num prédio antigo e tem com um design de interior muito bonito, o Selina. Pena estar localizado em uma região, não de alto risco mas, de médio risco de assalto, que é a Lapa.







terça-feira, 23 de abril de 2019

NA CAPITAL FEDERAL

Brasilia não é uma cidade, mas uma pista de pouso e decolagem. Tania Quaresma

21/04/2019
Cheguei ao meio-dia e como tinha acordado muito cedo resolvi dar uma descansada e ir ao shopping aqui perto no final da tarde para informar-me sobre o City Tour.
Hoje é aniversário da cidade e segundo o taxista que me trouxe no hotel ia ter show com Anita na Esplanada dos Ministérios. Quanto a mim pretendia à noite ir jantar em algum restaurante no Lago Sul. 
Porém, quando terminei de arrumar-me para sair caiu um aguaceiro enorme, que alagou ruas e derrubou árvores, prendendo-me no hotel. 

22/04/2019
Depois de visitar a Super Quadra Sul 308 peguei um UBER e pedi que me levasse ao  Congresso Nacional. O motorista me perguntou se iria para a chapelaria. Não entendi e perguntei o que era. Ele então falou que era por onde entravam os parlamentares. Lembrei então que antigamente se deixava os chapéus, casacos e bengalas na entrada.   
Expliquei então que iria fazer uma visita guiada pelo Congresso. 
Pretendia ir no Congresso na terça mas na Internet fiquei sabendo que só tem visitas na segunda, quinta, sexta, sábado e domingo. Gostaria de ir amanhã, que terá mais movimento e não porque poderia cruzar com algum políticos conhecido mas sim, para ter a chance de encontrar algum jornalista no salão verde, talvez o Gerson Camaroti, Andréia Sadi e, se tivesse muita sorte, Eliane Cantanhede ou Cristiana Lobo

l










O grupo saiu do Salão Negro (o piso é de granito negro), passamos pelo Salão Nobre (fotos acima) onde o presidente recepciona chefes de Estado. Possui um vitral da artista plástica Marianne Peretti (a mesma que fez os vitrais da catedral) e as poltronas são de Mies Van der Rohe, depois seguimos em direção ao Salão Verde, que é onde ficam os jornalista. Mas hoje, claro, não havia quase ninguém.

Na foto acima uma réplica de uma belíssima escultura de Alfredo Ceschiatti, que encontra-se na Catedral. E, nas fotos abaixo, à esquerda um painel de Athos Bulcão e, à direita, um quadro de Di Cavalcanti. 

 
Ao lado do salão verde fica o Plenário da Câmara que hoje não tinha sessão e fomos levados até as galerias para conhecê-lo. Embora hoje a Câmara tenha 513 deputados, ela só tem 396 assentos.



Depois fomos para o plenário do Senado onde estava tendo uma sessão e não poderíamos tirar fotos. Estava lá o senador Alvaro Dias, do Podemos do Paraná. Ex-candidato a presidente da republica, que discursava sobre como a Petrobrás, de como 40% dos lucros da empresa são desviados para o exterior e, blá, blá, blá, blá. Pensei até em pedir um aparte e dizer: "vamos privatiza-la, senador!" Mas era tudo um faz de conta e ele falava para uma platéia vazia. Havia ali só o presidente da mesa e 2 secretários e mais ninguém.


Antes de seguir para o Anexo 4 fomos conhecer o Museu Itamar Franco com móveis que pertenceu ao primeiro Congresso brasileiro, ainda sob o Império.  

















Depois seguimos para o Anexo 4 pelo chamado Túnel do Tempo, na foto abaixo. 
Nos anexos ficam a Mesas Diretora, as lideranças partidárias e as Comissões (a CCJ amanhã estará "fervendo"), além dos gabinetes dos deputados.  
Na cobertura do Anexo 4 ficam os restaurantes do Congresso que pertencem ao Senac. E nunca comi tão barato. Escandalosamente, como não poderia deixar de ser, barato porque paguei por uma Coca e duas sobremesas, 8,90 reais. No Rio, em qualquer cafeteria, teria pago 30 reais. Tudo bem que é Senac, mas nunca paguei barato assim em um restaurante deles. 



Antes de ir para o Congresso fui conhecer a Super Quadra Sul 308. No curso de mestrado em urbanismo tive uma aula sobre este projeto de Lúcio Costa e, também no próximo sábado a Globo News levará ao ar um documentário sobre esta quadra que serviu de modelo para as demais da cidade.
Desconfio que no documentário ela será mais bo
nita do que a que vi, que achei mal conservada e já bastante descaracterizada. 
A fachada de fundos dos blocos são fechadas com os chamados cobogós, um sistema criado para dar ventilação natural que foi modificados pelos moradores devido ao vento constante. Porém não descaracterizaram, ao contrário de alguns detalhes decorativos, o que não deveria ocorrer em um patrimônio tombado pelo IPHAN.
Na foto abaixo o chamado  jardim de Burle Marx, que não é jardim, mas um lago. O Lago das Carpas.  E, os azulejos de Athos Bulcão estão somente na igrejinha, esta uma obra de Niemeyer.






A superquadra tem escolas, biblioteca, posto de saúde, uma igrejinha e supermercado dentro da propostas de ter todos os serviços perto da moradia e não haver necessidade de uso do carro.
Porém carros é o que mais se vê em frente aos prédios, significando que, como tudo nesta cidade, também foi fruto de utopias que fracassaram.
Assim como os pilotis livres que deveriam funcionar como espaço de convivência, o que não vi. Assim como não vi crianças nem mesmo adolescentes circulando pelas áreas comuns. Pelo horário? Não sei. 
Mesmo porque em Brasilia não se vê gente, somente carros, muitos carros. 



E Brasilia é uma cidade toda segmentada, tem o setor hoteleiro, o residencial, o comercial, etc. e é assim porque foi planejada para os carros. Também não existem praças e os jardins são só ornamentais e mesmo assim mal cuidados.    

















23/04/2019
Hoje peguei um ônibus em frente ao Brasilia Shopping e fui fazer um City Tour.




Primeiro passamos pelo Catedral onde descemos para tirar fotos. Os vitrais são muito bonitos, pena que não há um cuidado em manter um padrão estético e foram acrescentados detalhes decorativos muito feios, como tapetes, vasos e arranjos de flores de mal gosto.
Depois passamos pela Esplanada dos Ministérios e percebi que há  muitos camelôs nas frente dos prédios enfeiando a paisagem urbana. Já, na Praça dos Três Poderes há somente alguns vendedores de souvenier e o espaço é muito bonito. A esquerda o executivo, com o palácio do Planalto - bem mais bonito que o Alvorada - e, do lado direito, o Supremo Tribunal Federal e em frente o legislativo, com o Congresso.   



               Mas, de todos o mais bonito, sem dúvida, é o Palácio do Itamaraty.  



                    Abaixo o também belíssimo prédio do Ministério da Justiça e Cidadania  


                 
                             E, abaixo o Lago Paranoá e a Ponte Juscelino Kubitschek



Esta incluído no passeio uma visita ao Palácio Alvorada mas como estava tendo um evento não tivemos permissão para entrar. Não lamentei porque de todos os prédios do Niemeyer, o menos interessante. Talvez valesse pela escultura dentro de um espelho d'água de Alfredo Ceschiatti.   





Depois do passeio de ônibus peguei um UBER e fui almoçar no Lago Sul, no restaurante Fausto&Manoel. 




Final de viagem e uma não tão breve avaliação:
Brasilia não é uma cidade mas uma imensa auto-estrada com grandes espaços verdes vazios e alguns arranha-céus ao redor. Clarisse Lispector dizia que era uma cidade mal assombrada. 
O meu guru (cada um tem o guru que merece), o urbanista Jan Gehl diz que Brasilia "é fantástica vista de um helicóptero mas do chão, onde vivem as pessoas, é uma merda". "É uma bela composição mas é uma catástrofe ao nível dos olhos. 
Gehl criou o termo "Síndrome de brasília" para designar a inexistência da escala humana no planejamento urbano. 
Jane Jacobs, outra urbanista que sou fã, autora de "Morte e Vida das Grandes Cidades"  é outra crítica mordaz da cidade. 
Também, percebe-se aqui a influência das idéias modernista de Le Corbusier: as grandes avenidas (ruas muito largas e calçadas estreitas) e a separação de funções urbanas (moradia, trabalho, lazer e circulação) e setorização. 
As ruas e as praças deram lugar aos shopping centers como locais de encontro. Há também um incentivo ao uso do carro e a horizontalização da cidade, encarecendo a distribuição dos serviços urbanos de transporte, água, esgoto e energia. Acabando por transformar Brasilia em uma cidade perdulária.  
Enfim, a Brasilia é uma grande contradição entre utopia e realidade. Umberto Eco disse que "de cidade socialista que deveria ser, tornou-se a própria imagem da diferença social".