quarta-feira, 29 de julho de 2020

DE VOLTA AO VELHO MUNDO - LISBOA

Floripa, julho/2020


Tempos atrás pensei em escrever um conto, no estilo realismo fantástico, onde a ilha de Florianópolis se afastava cada vez mais do continente e encontrava uma corrente marinha que a levava até a costa de Portugal. Fazendo assim o caminho inverso das caravelas portuguesas.
E hoje tive uma outra idéia para um conto. Pensei numa história  que começaria comigo embarcando para Portugal em Agosto de 2020 e desembarcando em terras lusitanas em agosto de 2021. No melhor estilo “De volta para o futuro”. Procurando entender, acesso no meu iPhone o jornal O Globo e fico sabendo que não só passou-se um ano desde a minha saída do Brasil como muita coisa aconteceu desde então: encontraram a vacina para a Covid-19; a chapa Bolsonaro/Mourão foi cassada pelo STF e tivemos novas eleições; o PIB cresce 10% e a desigualdade social passou a ser a grande preocupação dos políticos e das elites...Tudo muito giro, como dizem os portugueses!

Nenhuma das idéias foram adiante e como sou uma escritora fracassada, vou me contentar a fazer um relato realista do que realmente aconteceu na minha viagem de volta ao velho mundo. Aventura que começou dia 05 quando embarquei para o Rio, onde fiz um teste de Covid-19, exigência para poder entrar em Portugal. Dia 10 segui para o aeroporto rezando para o vôo não ser cancelado, o que tem ocorrido com frequência devido a diminuição do número de passageiros com a pandemia.  

Outro problema causado por ela é a proibição da entrada de brasileiros na Europa, a não ser que tenham passaporte da U.E., o que é o meu caso. Como tenho passaporte português acredito que não terei problema para entrar no país. De lá pretendo sigar para a Suécia onde estão dois amigos, Célia e Carlinhos, que são cidadãos suecos. Quanto a mim, tenho que primeiro ir para Portugal pois, mesmo com passaporte europeu, não poderia ir direto do Brasil.

Os brasileiros, que só estão atrás dos USA em número de infecções por Sars-CoV-2, e por isto estão impedidos de entrar na maioria dos países do planeta.
O Brasil virou um párias do mundo, não só por culpa do coronavírus mas também por causa da política brasileira para o meio ambiente e de um governo de extrema-direita. Somos vítimas não só do coronavírus mas também do bolsonavírus. Penso que em Estocolmo direi que sou argentina para fugir de explicações sobre o genocídios dos indígenas, queimadas na Amazônia, clororquina, etc., etc.   

04/08/2020
Inicio hoje a viagem mais complicada de todas que ja fiz em virtude desta pandemia. 
Imaginando que me esperavam algumas dificuldades, estabeleci 4 etapas à serem vencidas até chegar à Europa.

A 1a. seria conseguir embarcar para o Rio e as dificuldades ja começaram quando, malas prontas, fui fazer o check-in e descobri que a passagem tinha sido cancelada, nao avisaram e a remarcaram para Brasília. A opção foi comprar outra passagem. Como meu primo tinha vindo a Florianópolis para pegar meu carro emprestado, fui com ele até Curitiba e embarquei no dia seguinte lá para o RJ. 


Já no Rio inicio a 2a etapa fazendo o teste de Covid que, precisa dar negativo, caso contrário não me deixarão entrar em Portugal. Depois de 2 testes negativos não estou muito preocupada, o que não me impediu a ter um sonho estranho. Foi um sonho paradigmático de tudo que estou passando: 

Estou indo por uma bela paisagem de montanhas (nota:  passei pela Serra do Mar em direção à Curitiba para pegar o vôo para o Rio), estamos parados admirando a paisagem com suas belas montanhas. Há um enorme precipício abaixo - é uma mata fechada  - quando escorrego mas consigo me segurar na borda ficando ali pendurada à beira do precipício. Não sinto medo, falo que mesmo que mesmo que caia, não morrerei. Beto vai atrás de socorro. 

Em seguida corta para meu retorno à uma especie de restaurante onde as pessoas estão muito curiosas e me fazem mtas perguntas. Ouço alguem dizer que sao todas bolsomínias.

Moral do sonho: prefiro correr riscos Indo para a Europa (a bela paisagem) do que continuar no Brasil do Bolsonaro. 

A 3a etapa a ser vencida era a de não ter o vôo cancelado. E começou com um atraso no vôo do Rio para SP e em SP novamente um atraso de uma hora mas finalmente, decolei.   
E a 4a e última etapa que era passar pela alfândega em Lisboa, ocorreu sem problemas. Pediram o teste de Covid no embarque e novamente na chegada em Lisboa.  


10/08/2020
A foto acima, vestida de astronauta, foi tirada dentro da aeronave. 
Chegando, finalmente, à Lisboa sigo para a guest que tem uma entrada meio feinha - o que é normal na Europa - mas dentro surpreendeu positivamente. 
O quarto - ou, o studio - é bem charmoso e muito bem localizado. Chama-se Dream Chiado Lisboa e fica na rua do Almada, 64, proximo ao metro Baixa-chiado. 



Tem sacada e até uma cozinha, com uma mesa com toalhinhas de linho bordada a mão. 

   




12/08/2020
Lisboa para minha felicidade continua Lisótima. É a cidade mais confortável do mundo e não falo só por causa do idioma mas por tudo, como se locomover pela cidade: tem onibus, metro, bondinho, barco. E renovaram a frota de ônibus, que agora são movidos à gas. Devem ser mais silenciosos e nem de longe se pode comparar com as "carroças" cariocas. 


Estava precisando de um pouco de exercício e fui caminhando até a Av. da Liberdade onde sentei em um banco e fiquei lá, em meio ao verde da avenida, matando a saudade da cidade e sentindo a vida fluir sem o stress do Brasil.     


Andando pela cidade, vi que infelizmente aumentou o número de moradores de rua. A maioria deve ser de imigrantes ou talvez, também de desempregados, vítimas da crise que em Portugal vai levar a uma queda de 16% do PIB.
 

13/08/2020
A diferença do Brasil é que, mesmo com isolamento social, aqui ha muitos espaços abertos e não sao interditados para quem quer pegar sol e relaxar. Na foto abaixo o Cais de Sodré, um dos meus sítios preferidos. 

Aqui tanto faz se as pessoas andam com máscara ou sem máscara na rua, cada um cuida de si e ninguém fica olhando de cara feia para quem esta sem. Somente dentro de lojas é obrigatório o uso assim como é preciso passar álcool gel. 
Fui almoçar no Mercado da Ribeira. Apesar da fila para entrar e da separação entre as pessoas nas mesas por um painel de acrílico ainda é um espaço muito agradável.




  
14/08/2020
Hoje pego um vôo para Estocolmo, já menos  apreensiva, visto que não passo mais pela alfândega.