domingo, 12 de janeiro de 2020

RIO 50 GRAUS

30 de janeiro de 2020
Me preparava para viajar ao RJ quando vi na TV que a temperatura na cidade estava em torno de 45 com sensação térmica de 53 graus. Ficarei no apartamento do meu amigo Carlinhos, que não tem ar-condicionado, lembrei, wow!!!
Cheguei aqui dia 15 de janeiro e desde então tem chovido bastante e mesmo nos dias mais quentes tenho dormido bem, bastando deixar as janelas abertas para manter o apartamento bem fresquinho.
O problema tem sido habituar-me a morar em um espaço tão pequeno (o apê tem em torno de 40m2) e em um bairro com tantos moradores de rua .  

O Rio todo esta virando uma Venezuela, tomado pela pobreza e controlado pela milicia. A milicia está também em todos os escalões do governo, na Assembléia municipal, no governo estadual e também no federal. Aqui ninguém ignora a relação da família Bolsonaro com a milícia, nem mesmo quem mandou matar Marielle. 
  
Quero, no entanto, deixar claro, que nunca vi nenhuma cena de violência nem mesmo um assalto ou roubo. O que ocorre também, mas é muito mais nas favelas, no asfalto o que existe é sim MUITA  MUITA POBREZA, muitos moradores de rua. 
Sei que tem violência em Copacabana mas eu não entro no bairro, não saio daqui deste pedacinho, próximo ao Arpoador. Faço tudo, compras, cinema, etc, em Ipanema e no Leblon, onde quase não há moradores de rua e nenhuma violência.   
A foto logo abaixo é do MAM e foi publicada no jornal O Globo. As demais são de Copacabana e a ultima é do prédio ao lado do apartamento do Carlinhos.  



Algumas pessoas oferecem ajuda, não resolvem o problema, mas ajuda-os a sobreviver. Já vi removerem alguns deles daqui da rua e voltarem no dia seguinte. Creio que nos abrigos são obrigados a tomar banho e a cumprir horários e não se submetem porque a maioria é de usuários de drogas.   
 .


Estou há 15 dias procurando apartamento para alugar sem muito sucesso....A dificuldade é imensa, há pouca oferta e o que tem é muito mal conservado ou os preços são muito altos.
O valor de uma apê padrão médio, na zona sul está em torno de 4 mil reais, o que dá 851,39 euros no cambio de hoje, o que daria para pagar um aluguel, senão em Lisboa, mas em Oeiras, que fica ao lado. 
Paga-se aluguel de primeiro mundo e mora-se no 3o mundo.

À dificuldade em encontrar apartamento para morar, somando a quantidade de gente dormindo nas calçadas, ao barulho das ruas, a musica alta em tudo quanto é lugar, aos ônibus que são uma verdadeiras carroças e a falta de conforto em geral, esta me levando a quase desistir de morar no Rio. 
Creio que perderia em muito a qualidade da vida que tenho lá no sul. 
Talvez, se não estivesse em idade tão provecta, não estaria tão preocupada com estes detalhes, estaria, com certeza, só pensando nas vida cultural intensa que existe aqui no RJ, nas mais de 10 salas de cinema de arte, na grande quantidade de teatros só aqui na zona sul. 
Na possibilidade de um cursos de cinema documentário na FGV, na ABL com suas palestras todas as quintas, onde encontro acadêmicos como Nelida Piñon, Cacá Diegues, o maravilhoso poeta Geraldo Carneiro, p.ex.
Há também os Clubes de jazz, etc, etc. Ou seja, usando uma frase de Tom Jobim sobre NY, morar no Rio é muito bom mas é também uma merda.  

Estou me sentindo como o índio que tomou um primeiro contato com os brancos e não  tem imunidade. Tendo, nos últimos anos desenvolvido uma intolerância ao vento e à chuva e por duas vezes surpreendida com a chamada chuva de verão nos finais de tarde, quando não é fácil conseguir um táxi, voltei molhada para casa e acabei resfriada. 
Quando você só anda de carro, como é meu caso no sul, não está tão exposta as intempéries e fica sem muita resistência a elas.   

Durante o dia tem feito muito calor minha pressão tem baixado bastante (já é baixa, 9 x 6) e, no sábado resolvi então tomar um banho frio, na tentativa de me livrar do mal estar e ir ao teatro assistir Henrique III no Poeirinha. 
O ator era ótimo e sozinho, segurou a peça toda, o que não é fácil pois são 48 personagens com tem uma história muito intrincada, marcando o final da idade média.
Estava adorando a peça mas minha cabeça pesava e sentia minha testa ardendo mas fui aguentando firme porque estava na primeira fila e não podia ir embora. Quando terminou peguei um UBER para voltar para casa e tremia de frio, devia estar com febre. Donde concluo que não estou imune a este clima, nem a esse caos e a esta cidade barulhenta. Acredito que o stress colaborou para que adoecesse.  

Já medicada e recuperada fui conhecer o Instituto Moreira Salles, que fica no alto da Gávea, rodeado por uma natureza exuberante além de um belo exemplos da melhor arquitetura brasileira e do paisagismo de Burle Marx. 





Depois do Ceviche e do sorvete de tapioca do quiosque La Carioca no posto 11 o que mais amei nestes últimos dias foi a peça "François Truffaut - O cinema é minha vida" no Net Botafogo e o filme "Jojo Habbit". 
Hoje, se não chover muito irei novamente ao Net Botafogo assistir "Uma Mulher Alta".

Desde que cheguei tem chovido com muita frequência, tornando tudo aqui mais desanimador e já começo a mudar de planos, pensando em viajar em abril para a Europa, talvez para o Egito.