Escrever é dar um sentido aos fatos da vida. É torna-los mais interessante.
Tisza
Tisza
Parece inacreditável, mas Lisboa tem quase o mesmo número de habitantes que Florianópolis. Diria que Lisboa é do tamanho de Curitiba (1.776.761 mi dados de 2015) se não soubesse que tem somente 506 mil (dados de 2015) habitantes. Apesar do grande número de jardins e parques (que na Europa costumam ser realmente grandes) aqui os prédios são grudados uns nos outros dando uma sensação de densidade populacional. Em geral não possuem mais de 3 ou 4 andares e encontramos prédios mais altos somente na região do Parque das Nações (distante do centro), atualmente na Marquês de Pombal e Saldanha, onde tem alguns hotéis com mais de 10 andares e, creio que na região de Benfica, mais distante do centro.
Mas, o mais incrível é que apesar do tamanho, Lisboa tem mais museus, bares e restaurantes do que Curitiba e a vida noturna esta mais próxima de SP.
E, o que vem tornado a cidade ainda mais cosmopolita é a vinda dos franceses para cá. Eles estão investido maciçamente no país, a maioria são aposentados que estão vindo morar aqui porque o custo de vida é menor que na França e é um país mais seguro, não tem atentado terrorista.
Atualmente, ouve-se mais o francês do que o português no centro da cidade.
Tenho falado só das qualidades da cidade e, para não parecer uma apaixonite cega, preciso falar também do que não gosto. O que mais me incomoda é o vento; e não é só em Lisboa, mas em todos os lugares por onde andei no país. É um vento muito frio. Sempre saio com um casaquinho na mão e, mesmo assim já peguei um infecção de garganta.
Também não gosto do costume do lisboeta falar muito alto, parecendo os brasileiros quando estão em viajem no exterior. E do fato de que eles nunca são muito precisos quando se pede uma informação, adoram o "pode ser que sim... talvez" ...e por aí vão e só você não vai a lugar nenhum, se depender da resposta deles.
A mais paradigmática é a que recebi da portuguesa de um armazém que ficava próxima a minha casa. Quando perguntei onde encontraria determinado produto ela me respondeu: "vais a encontrar numa grande superfície". Pedi que explicasse melhor mas foi inútil. Depois descobri que poderia ter dito: "no supermercado Pingo Doce" e estaria tudo resolvido.
Preciso também falar da culinária portuguesa. Como já havia comentado antes, não gosto da carne que servem aqui, não tem gosto algum e, mesmo uma picanha Black Angus aqui é insossa. Também não gosto do pão, que é seco e duro e do café que é amargo (não é que seja muito forte, é amargo mesmo). Coloco três saches de açúcar para conseguir tomar.
Dias atrás estava com um casal de brasileiros e uma brasileira almoçando no Marcado da Ribeira e falávamos da culinária local. O casal concordava comigo e a outra não. Mas fui percebendo que era do tipo que não importa o que se diga, ela sempre ira discordar - enfim, era uma "chata de galocha".
Contava a eles que dias atrás arrisquei num espaguete À la Bolognesa e foi horrível porque a carne, além de não ter gosto, era tão moída que mais parecia uma pasta. Enquanto que, o verdadeiro À la Bolognesa é feito com pedaços de carne que ficam cozinhando horas até quase desmancharem e o molho ficar escuro. Era assim no divino Sapore di Sale, em Floripa que, infelizmente não existe mais.
E, que outro dia pedi um Ovos Mexidos na Farinheira, achando que eram feitos com farinha de mandioca. Não, "farinheira" é um embutido e os embutidos vem da região do Alentejo, são muito forte. Mas os portugueses amam os embutidos. Não foi o meu caso, que passei mal a noite toda.
Segundo a opinião do casal a culinária portuguesa é muito rude, sem muita sofisticação e concordamos que a culinária lusitana não é aquilo tudo que dizem e que é, e nem de longe é comparável à francesa ou mesmo à italiana. A única que discordou, claro, foi a chata.
Mesmo assim, posso dizer que gosto muuuiito de Bacalhau à Brás, de Arroz de Pato, do Arroz Doce e do Pastel de Belém. E, certamente, ainda descobrirei outros pratos que virei a gostar muito e outros que nem tanto.
Ainda preciso experimentar o Bacalhau à Lagareiro com Batatas ao Murro, molho no qual o meu sobrinho Guilherme disse que vem se especializando. Preciso saber dele se poderá ser a pièce de résistence no próximo jantar que ele fizer na casa da avó, claro, que depois da volta da tia ao Brasil.
09/08/2107
"Eu sou o que vós chamais de Cabo das Tormentas. Ptolomeu, Plínio, Pompónio e Estrabo não me conheceram, mas jamais ousariam desafiar-me. fui outrora um dos gigantes que guerrearam contra Júpiter, chamava-me Adamastor."
Luiz de Camões
Além dos 3 dias de calor escaldante em junho, que culminou com 3 dias de chuvas e raios que provocaram os incêndios e mortes na região de Leiria, não tivemos mais nenhum dia com temperatura muito alta. A temperatura tem estado em torno de 26 a 29 graus e nesta semana tem ventado muito. Hoje fui obrigada a sair de blusa de cashmere pois, já com a garganta "estropiada" e um pouco de febre, achei melhor me cuidar.
O vento aqui é algo inimaginável e diria até, não sem certo exagero, sair à rua é quase como enfrentar o gigante Adamastor no Cabo das Tormentas.
10/08/2017
Fui a Estação Sete Rios comprar passagem de autocar para Faro, no Algarve, onde passarei um dia e depois seguirei para Sevilha, na Andaluzia.
Próximo da estação fica o Palácio Fronteiras e segui até lá mas as visitas ao interior já estavam encerradas e pude somente visitar o jardim, que é pequeno mas bonito
O palácio, edificado no séc. XVII, com influência italiana na fachada era o pavilhão de caça do marques de Fronteiras.
Desde o tempo das cavernas que o ser humano procura narrar sua história através do desenho. Um exemplo ainda atual são os tapetes Gabbeh, feitos na Índia, que retratam o cotidiano da vida da tribo e, muitas outras civilizações assim o fizeram também ao longo dos anos, deixando um belo registro de suas vidas para a posteridade.
Porém, o mesmo não ocorreu nos países americanos, talvez por sermos um civilização mais recente, pós Gutemberg, não encontramos este tipo de narrativa pictórica da nossa história.
Abaixo um belo recanto com forte influência árabe na azulejaria e também na cor azul de suas paredes |
Abaixo, e a esquerda do jardim fica o Tanque Grande que possui um belo trabalho em azulejaria com a figura dos antepassados da família refletindo nas águas do tanque e, no alto, encontram-se nichos com bustos dos reis de Portugal.
12/08/2017
Alfacinha é como chamam o morador de Lisboa. Conta a lenda que durante um prolongado sítio à cidade feito pelos mouros, entre 711 e 714, não entrava alimentos na cidade e a alface era, não só uma planta abundante, mas a única que existia no local.
Ou talvez, porque não raras vezes eles ficam verdes de raiva! Principalmente quando se insiste numa informação qualquer e eles não são muito pacientes. Mas, apesar de um pouco intolerantes com turistas, são em geral simpáticos e até carinhosos quando gostam de você.
A dona da Guest onde estou hospedada e com quem só falei pelo telefone (acho que é uma médica) que diz que quer muito me conhecer porque a Madalena (a faxineira) fala muito bem de mim e é "beijinhos para cá, beijinhos para lá" e "você é uma querida".
Enquanto que o brasileiro gosta de agradar e de dar tapinhas nas costas, eles são verdadeiramente amorosos.
Ando aqui nos autocar nos horários onde não tem muitos trabalhadores e sim muitos velhinhos e aposentados. A novidade para mim é a quantidade de pessoas negras que encontro nos transportes coletivo e nas ruas, com quem gosto também de conversar, além do velhinhos.
Elas vão as compras, ao médico, etc, como toda classe média. Noto que não existe nas roupas e no comportamento, nada que indique uma diferença de classe econômica - são também da classe média e não vivem em guetos, mas dividem os mesmos espaços com todos.
Porém, quando puxo conversa percebo que causa uma certa estranheza, acostumados que estão a ser "invisíveis" aos demais.
Quanto a mim, só posso pensar que tenho um sanguinho lá na mãe África também porque sou fascinada pela raça negra.
Alfacinhas, do gênero masculino, posso falar de dois que conheci.
Um em Setúbal que, para minha decepção, era leitor de Paulo Coelho e gostava de citar Jacques Prevért. Mas, fora o gosto literário duvidoso, tinha um ótimo papo, inteligente e com excelente senso de humor. Estava com um amigo belga que foi fotógrafo do Jacques Costeau. Convidaram-me para jantar em Lisboa. Não foi em frente porque fui percebendo que ali já existia um casal e caí fora.
O segundo alfacinha era um tipo bonito, elegante e vestia uma cashmere jogada nos ombros no dia que saímos para ir a um clube de jazz. Levou-me também a um local de shows mais alternativo, interessante também.
Valeu para conhecer estes lugares pois a noite toda não falou nada que valesse a pena. E, no clube de jazz chegamos já na metade do primeiro show e me fez sair antes do início do segundo para não ter que pagar por um novo ingresso, que era de 7,50 euros. Pobreza intelectual e financeira não dá e cai fora também.
O português em geral - claro que falo da classe média e não daquele que estão nas academias ou em meios mais intelectuais - não são muito refinados. Exceção também àqueles que saíram do país, como foi o caso do leitor do António que morou até recentemente nos USA.
Por outro lado, percebi que a imagem que a classe média daqui tem do brasileiro é a do imigrante nordestino, que é quem até recentemente vinha para cá trabalhar. E, a do Brasil é a de um país com grandes desigualdades e atrasado, quando, na verdade, em muitos aspectos somos muito mais modernos porque somos muito mais consumistas que eles e nos espelhamos nos USA.
Mas, hoje muitos brasileiros da classe média tem vindo para cá estudar e o número de turistas também tem aumentado muito. Creio que também as novelas brasileiras tem mudado um pouco esta imagem.
Entre os turistas tem os brasileiros que estão estudando em outros países da Europa e vem passear em Portugal. São jovens, bonitos e extremamente educados, ao contrário dos casais ou grupos de brasileiros que, estes sim são os típicos turistas brasileiros, que falam alto, são espaçosos e as mulheres "peruas" (embora as portuguesas vistam-se muito parecido.Tirando a Benetton, nas demais lojas as roupas são muito parecidas com as nossas).
Agora, a pior turista mesmo é a minha vizinha de quarto de hotel. É uma nordestina rude, e esta realmente veste-se mal, usa calça jeans, mesmo com o calor que esta fazendo.
Nunca vi ninguém tão tão bronca e isto que é advogada. No primeiro dia que fui apresentada a ela, convidei-a para almoçar - o assunto era só a irmã que não ajudava a cuidar da mãe, os filhos e netos, fio um blá blá blá chato tornando o almoço longo e tediosos. Tentei dizer "esquece, você está em Lisboa, nesta cidade maravilhosa, curte a tua viagem" mas não teve jeito. Está viajando com o cunhado e a irmã, que estão em outro hotel e à noite quer sair comigo porque eles dormem cedo. Venho fugindo dela como o diabo da cruz!
Bem, vou parar de falar sandices e continuar tomando minha sangria, porque parou o vento e o sol esta muito giro.
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