domingo, 6 de agosto de 2017

O BRASIL DAS DESIGUALDADES

5/08/2017
Depois da noitada de ontem pelos bares da cidade, estou descansando e aproveitando para escrever no blog. Meu primo Beto, que esta sempre me enviando ótimas dicas sobre Portugal, enviou um vídeo do ator Pedro Cardoso, que deu um novo rumo às minhas reflexões sobre as diferenças entre Brasil e Portugal. 
Nele o ator, que atualmente mora em Portugal, fala que considera o grande problema do Brasil a necessidade louca que temos de ganhar dinheiro. Ao contrário do europeu para quem aproveitar a vida: viajar, deitar numa grama e assistir a um concerto são seus maiores valores. No Brasil vivemos para fazer patrimônio, para deixar a família bem e os filhos com o futuro garantido. E tudo é permitido em nome do bem estar da família, como já dizia Sérgio Buarque de Holanda em "Raízes do Brasil" - o que justifica, aos políticos, arrumar um cargo público para o genro, levar uma comissãozinha aqui...outra ali.

Segundo Pedro Cardoso a ganância do brasileiro por dinheiro é causada pela inexistência de um Estado que garanta lazer, saúde, educação e transporte público de qualidade. Além de precisarmos morar em condomínios caros para termos mais segurança. Vivemos, assim, preocupados em poder pagar por tudo isto e não sobra tempo nem dinheiro para aproveitar a vida. 





Enquanto o brasileiro só pensa em ganhar cada vez mais dinheiro aqui eles pensam em desfrutar da vida, em viver prazerosamente, sem estresse. O que também é proporcionado pelo Estado pois, além dos jardins, que são muitos e belíssimos, há concertos ao ar livre durante o verão, também museus (e são  muitos) que nos 1os domingos de cada mês, são de graça. 


Nos países do leste europeu ainda tem as piscinas térmicas ao ar livre, as pistas de patinação, os clubes de dança - tudo de graça - para o lazer da população. E no Brasil? No Brasil a classe pobre faz churrasco na laje e a rica vai para o shopping.
Além disto tudo, para viver no Brasil também é preciso muito mais dinheiro do que precisaríamos se morássemos em Portugal. Para uma vida confortável no nosso país precisamos  ganhar mais ou menos 20 mil reais/mês enquanto que, aqui viveríamos com a metade disto. Aqui vive-se confortavelmente com 2,50 euros, que corresponde a 10 mil reais no Brasil. 

Mas não só o custo Brasil explica nossa amor ao dinheiro. Creio que, soma-se a isto uma cultura de privilégios, que vem desde a monarquia. Gostamos de ostentar, de viver de aparências, escondendo nossa pobreza moral, intelectual e afetiva atrás de palácios e carros de luxo. O dinheiro também nos protege do olhar do Outro, do mendigo que pede esmola nas ruas da cidade. E nos protege, não da ameaça que estes possam representar (que é a história que inventamos e que nos justifica) mas da vergonha de sermos um país tão injusto.

Estamos longe de ser um país democrático. Somo um país dividido em castas: a dos ricos e a dos pobres - aqueles que andam de ônibus, que vivem em bairros sem segurança, sujeito a bala perdida e não tem os mesmos direitos à serviços de transporte, saúde e educação de qualidade. Sim, no Brasil alguns tem mais direitos que outros. 
Segundo Raymundo Faoro, em "Os Donos do Poder", tudo começou com D. João VI, com a distribuição de privilégios à pequena burguesia que deu origem a  elite burocrática que, hoje, mesmo com 14 mi de desempregado no país, está a exigir aumento nos seus já bastante altos salários. 
Mas, a família real trouxe também a visão patrimonialista da coisa pública, daí o porque dos roubos na Petrobras, das propinas dos políticos e destes estarem sempre a meter a mão na arca da viúva sem o menor pudor.
Concluindo: viver no Brasil, não só é caro como é também decepcionante.

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A noite fui a um show de jazz no Museu Gulbenkien, no anfiteatro a céu aberto. O trompetista americano Dave Douglas, faz uma som mais experimental.  Gosto mais do jazz tradicional, de New Orleans, mas foi interessante. 
                                                                  

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