2009
5. FRANÇA
3.1. PARIS
3.1.1. HOSTEL MIJE
26 de Outubro de 2009 – Retornava à Paris após cinco anos, me hospedando, inicialmente, no Hostel Mije,
localizado na Rue du Fauconnier, em
Marais. Um edifício histórico do século 17, transformado em um charmoso hostel,
que foi minha primeira casa na capital da França.
Por falta de disponibilidade em quartos individuais, compartilhei um quarto com outras cinco mulheres: eu, uma brasileira, uma italiana, uma francesa, uma israelense e duas japonesas. A diversidade cultural era evidente, uma verdadeira assembleia da ONU.
O momento mais marcantes foi quando voltando para o hostel, encontrei uma garota palestina “invadindo” a cama da minha amiga israelense. A ironia da situação, pensei divertindo-me, era que ocorria o inverso da situação do oriente médio, onde são os judeus que invadem o espaço dos palestinos. Quando a israelense chegou houve uma tensão inicial logo desfeita e, resolvido o problema imediato, passaram a discutir as questões geo-politicas dos seus países. Mesmo não conseguindo entender tudo que falavam, fiquei assistindo aquela cena inusitada.
Conheci também, no hostel, uma fotógrafa francesa, Anny, moradora de Lion, nos tornamos amigas e continuamos a nos correspondermos após deixamos o hostel. No entanto, com o passar do tempo, minha dificuldade com o idioma fez com que, gradualmente, deixasse de responder suas mensagens.
Meu desejo de mergulhar na
cultura e no estilo de vida francês estava limitado pela minha dificuldade de
comunicação, transformando-me em uma mera observadora da alma francesa, uma flaneur pelas ruas da cidade. Precisava
de um tempo para me organizar antes de iniciar um curso na Aliança francesa.
28 de outubro - Ao lado do hostel ficava a Rue de Barre, uma travessa piétonne (rua para pedestres) muito simpática, onde gostava de sentar nos dias de sol, comer nos seus bistrôs e curtir o movimento.
Quando caminhava em direção à Rue de Rivoli, cortava o caminho por uma travessa estreita onde havia uma casa com uma profusão de bibelôs e enfeites de louça que chamavam minha atenção levando-me a parar para apreciar. Dentro uma velhinha assistia a TV aparentemente alheia à minha presença.
Também, em St Germann alguns apartamentos mantinham as janelas com as cortinas abertas, mesmo à noite, numa simbiose entre o interior das casas e a rua, e adorava espiar, estava me tornando uma voyeur.
Marais, localizado no 4º
arrondisement é, sem dúvida, o bairro mais descolado de Paris com suas
boutiques de luxo, brechós, galerias de arte, clubes gays, restaurantes kosher. A atmosfera única de Marais
também proporcionava encontros inesperados como um memorável um grupo de
travestis da foto acima.
Marais é um bairro com uma significativa
comunidade judaica e, quando passeava pelas ruas era comum encontrar placas,
nas fachadas dos edifícios em homenagem aos cidadãos franceses mortos em
Auschwitz, reforçando a importância de se preservar a memória histórica.
Durante um passeio pela Rue des Rosiers, deparei-me com um anuncio de um B&B, guardei o endereço pensando na possibilidade de alugar um lugar onde pudesse assistir programas locais de tv, ajudando na minha imersão no idioma francês. Era uma rua só de judeus ortodoxos, daqueles que usam quipá ou chapéu preto e cabelo com trancinhas e, invariavelmente, andam de terno escuro.
Descobrira um café perto do Mije, onde comi um Coq a Vin, simplesmente divino, chamava-se Café Framboise ou Chez Mademoiselle (não estou certa do nome).
07 de novembro - Noutro dia, quando voltei à noite para assistir um show de jazz o proprietário me apresentou a duas brasileiras, ambas casadas com franceses - mas que estava sós - que me convidaram para ir num bar brasileiro chamado Favela Chic que tocava pagode. Fomos até o bar mas quando elas subiram encima da mesa achei que estava na hora de ir embora e voltei sozinha para casa.
5.1.3. O MODERNO X ANTIGO
Em Marais ficava também um dos prédios mais antigos da cidade, um
dos poucos da idade média que sobreviveu aos incêndios ou à reforma urbana do Barão Haussmann, conhecido como o
“artista demolidor”, que foi prefeito de Paris em 1853 e 1870 e que realizou
uma reforma urbana durante o império de Napoleão III.
Meu interesse pela arquitetura me fazia ter um olhar crítico para Les Halles, um dos prédios modernos de
Paris que, embora apresente um design atrativo, estava sufocado pelos prédios
antigos no seu entorno. O Centre George
Pompidou, concebido pelo renomado arquiteto Renzo Piano, mesmo tendo uma pequena praça na frente, também estava
“espremido” no meio do 3º rrondissement.
Contrastando com a Cinemateca, um oásis verdejante projetado por Frank Gehry. Este refúgio cinematográfico, situado em Bercy, revelou-se um cenário idílico, enriquecido pela proximidade com o Jardin Yitshak Rabin e a encantadora Cour de Bercy, repleta de lojas e cafeterias convidativas.
Minha visita à Cinemateca coincidiu com o início
do outono, quando os plátanos começavam a adquirir tonalidades douradas,
antecipando sua iminente queda.
30 de outubro – Ainda à rive droite, no 12º arrondissement ficava a Gare de Lyon, uma belíssima estação de trem com um café plus bea, ou mais bonito ainda onde gostava de visitar.
08 de dezembro – Voltar ao Quartier Latin sempre trazia um gostinho de nostalgia. As bancas de comida e as floriculturas nas calçadas davam um toque vibrante e alegre às ruas do bairro. Comecei o dia na Place Maubert, proxima ao hostel onde morei. Nos fins de semana havia uma feira que vendia de tudo, de ostras, verduras à cachecol, casacos de pele e tapetes. Neste dia havia um brocante (feira de objetos usados).
Onde também ficava a lendária livraria Shakespeare and Company, ponto de encontro de escritores como Ezra Pound, Ernest Hemingway, James Joyse entre outros. Alguns chegando a morar na própria livraria, como mostra os filmes Midnight in Paris e Before Sunset ou Antes do Pôr do Sol.
09 de dezembro – Na Rue Galande, um lugar imperdível no coração da boemia, havia o cabaré Aux Trois Mailletz, meu refúgio na época em que morei no Quartier Latin. Os clientes davam canja cantando ou tocando piano, e o repertório variava da música popular francesa à ópera.
Apesar de todo o charme, Paris tem suas contradições. Mendigos nas ruas e dentro do metrô são uma realidade. Perto de vitrines luxuosas, como as de casacos de pele, encontrava-se frequentemente um mendigo. Alguns apelavam para a religião, indicando uma origem no Leste Europeu e, diziam, eram explorados por máfias. O filme "Transe", de Teresa Villaverde, ilustra bem essa exploração.
Na Île de la Cité, as placas nas fachadas dos prédios indicavam que ali viveram figuras importantes, um lembrete constante da rica história cultural de Paris.
B&B
Mudei-me para um B&B na Rue des Rosiers, que era bastante confortável, com uma pequena cozinha que me permitia preparar refeições. O único problema era a duração limitada da água quente no banho. A rua tinha uma lavanderia a quilo, o que me permitia manter uma rotina mais de moradora do que de turista. Aos domingos, a rua ficava lotada de pessoas em fila para comer o famoso falafel da cidade, embora eu não fosse fã da iguaria.
Visitei o Musée des Arts Décoratifs no Louvre e fiquei encantada com os móveis, roupas e louças. Mais tarde, comprei ingressos para assistir a uma peça de Dario Fo na Comédie Française. No metrô, o ambiente multicultural era evidente, com torcedores de futebol alegres e uma mistura de pessoas de todas as origens sociais e econômicas.
No dia seguinte, peguei o metrô até a estação Palais Royal-Musée du Louvre, a mais bonita da cidade, e fui à Place de la Concorde e ao Petit Palais para ver uma exposição sobre o Império Bizantino.
Montmartre e Le Lapin Agile
Em Montmartre, encontrei o famoso Moulin Rouge, protestos contra a venda do cabaré estampavam sua fachada. Passei pela movimentada Place du Tertre e fui ao Le Lapin Agile, um dos cabarés mais antigos de Paris, frequentado por artistas como Picasso e Maupassant. O ambiente era autêntico e boêmio, com um pianista tocando enquanto os fregueses se envolviam em discussões animadas e músicas tradicionais.
Jardin des Plantes e Rue Mouffetard
Visitei o Jardin des Plantes, um vasto espaço com estufas, um zoológico e um roseiral. Depois, segui para a Rue Mouffetard, uma rua pitoresca de comércio popular, onde comi um delicioso cassoulet.
Viagem a Versalhes
Peguei o trem RER até Versailles e encontrei um médico peruano na estação. À noite, fomos dançar salsa no Salsero e terminamos na Rue des Rosiers.
Curso na Aliança Francesa
Comecei um curso de francês na Aliança Francesa. A diversidade cultural da turma era impressionante, com colegas de várias partes do mundo. Em uma ocasião, minha sinceridade criou tensão, mas a professora valorizou o debate de ideias, uma prática comum na sociedade francesa. No último dia de aula, encontrei uma passeata, um verdadeiro esporte nacional na França, assim como o debate de ideias.
Cada dia em Paris era uma descoberta, um mergulho na cultura, história e nas pequenas peculiaridades da vida parisiense.
entre outros.
Mas nem tudo era charme e, contradições que não são exclusividade do 3o mundo mas também existiam nas
capitais do 1o mundo, encontra-se mendigos nas ruas, dentro dos metros, etc. Uma situção paradgmática: próximo a uma
vitrine com casacos de pele havia um mendigo sentado na calçada. Alguns se fazendo acompanhar do melhor amigo do homem, expressão mais do
que correta no caso destes, visto que também os protegiam do frio.
Alguns apelavam para à
religião, o que indicando sua origem no leste europeu e, diziam, havia sempre
uma máfia por trás, explorando-os. O filme Transe,
de Teresa Villaverde mostra uma jovem de São Petersburg que viaja para a
Alemanha a procura de trabalho e é raptada pela máfia russa que a vende para um
bordel, mostrando bem este tipo de exploração, da mendicância e da
prostituição.
Na ilha de La Cité encontrava, com frequência, nas fachadas dos
prédios, placas indicando que naquele local morou alguém importante – a memória
do país estava presente em todos os cantos da cidade demosntrando o quanto que a história, a cultura e conhecimento faz parte da vida do francês.
3.1.5. B&B NA RUE DES ROSIERS
O único problema com o apartamento era o tempo que durava a água
quente durante o banho e, lavar o cabelo e tomar banho tinha que ser feito em
horários diferentes.
Na rua havia
uma lavanderia a quilo e eventualmente fazia uma parada nos passeios para levar
a roupa, mantendo uma rotina que não era a de uma turista mas a de uma
moradora.
A Rue des Rosiers era uma rua muito charmosa que nos domingos
ficava lotada de pessoas com fila para comer o mais famoso Falafel da cidade.
Não era uma apreciadora da iguaria.
3.1.6. O 1º ARRONDISSEME – LOUVRE, JD DES TULLERIES E COMEDIE
FRANCESA
Gostava do Musée des Art & Decorations, porque tinha também mobiliário,
roupas, louças.
Mais tarde fui a Comedie Francesa comprar ingresso para assisti a
uma peça de dramaturgo italiano Dario Fo. Dario Fo, creio que conhecido no Brasil. D.F. é um grande contador de
história e também usa muito do gestual e, mesmo a peça sendo em italiano,
acreditei ter entendido bastante.
Na volta encontrei no
metros um grupo de torcedores de futebol muitos alegre. Os subway são também
uma amostra da diversidade cultural, social e econômica da cidade, visto que aqui na Europa todo mundo usa o transporte coletivo, rico, pobre, nativo ou imigrante. Outro dia observava o comportamento de algumas
mulheres muçulmanas, porque falavam nervosas, queixosas, contrastando com jovens francesas que riam e falavam alegres.
3.1.7. O 8º ARRONDISSEMANT - PLACE DE LA
CONCORDE E CHAMPS D’ELLYSÉE
Peguei o metrô e desci na
estação Palais Royal-Musée du Louvre, a estação mais bonita da cidade, com peças de
museu, depois fui até a Place de la Concorde e ao Petit Palais ver a
exposição sobre o Império Bizantino.
Passeando em Champs d’Ellysée, admirava
as lojas da avenida mais famosa de Paris não conseguindo deixando-me fascinar
com as roupas, mais clássica que a italiana. Lamentava-me não ser longilínea
como as francesas, elegantes nos seus mantôs, mesmo não usando salto
alto, considerado inadequado o uso na rua e só a brasileira e a
latina usam salto alto na rua, mesmo com suas calçadas mal conservadas.
22 de dezembro – Final de novembro, apesar do frio que
fazia fui para a Place de la Concorde e segui até os Champs
des Elysée e novamente a uma feira de natal onde, além dos objetos decoração encontrava
também boas comidas e bebidas.
3.1.8. O 9º ARRONDISSEMENT
- OPERA
GARNIER E BOULEVAR HAUSSMANN
10 de dezembro – Fiz uma visita guiada à
Opera Garnier. Posso dizer que conheço
poucos teatros tão luxuosos quanto à
Opera Garnier . Os corredores e Foier
são incomparáveis.
Além da sala de espetáculo tem também um museu do teatro, com maquetes dos grandes espetáculos e figurinos expostos, uma biblioteca sobre artes
cênicas e uma loja.
Já,
o teto da sala de espetáculo tem uma pintura que, segundo o guia do museu
é uma imitando Chagal, não é autêntico. Terminei, como gosto, no café.
Em seguida fui ao Boulevar Haussmann ver as vitrines com decoração de Natal dos grandes magazines, no Printemps e
no Lafayette as vitrines são belíssimas, algumas com manequins animados, que se
movimentam ao som de música natalina. Foi construída uma plataforma de madeira
para as crianças melhor observarem o espetáculo.
3.1.9. MONTMARTRE E O CABARÉ LAPIN AGILE
Estava indo a
Montmartre quando encontrei uma parisiense de cabelos brancos e pedi para fotografa-la,
explicando que vinha pensando em aderir a moda quando chegasse ao Brasil;
aproveitava para perguntar qual era o segredo para mantê-los tão bonitos.
Assim, meu atual cabelo branco começou a ser planejado nesta viagem.
Em Montmartre
encontrei o famoso Moulin Rouge com faixas de protestos na
sua fachada contra a venda deste cabaré que é um patrimônio cultural dos
franceses. Protestavam contra a perda de seus empregos.
Não era o lugar onde eu iria assistir um show, pelo estilo muito comercial,
“para turistas”, mas tem sua importância na história parisiense e foi
frequentado por Toulousse Lautrec e boêmios durante a Belle Époque.
Segui em direção à Bute Motmartre até à movimentada Place du
Tertre passando antes no Le Lapin Agille para informa-me sobre o show que pretendia assistir
no dia seguinte.
No dia seguinte fui ao Le Lapin agille, o
cabaré mais descolado de Paris. Descobri que só abria as 24h tive que ficar
numa fila esperando abrir. Frequentado por artistas famosos como Picasso,
Maupassant, Apollinaire o Lapin Alille é um dos cabarets mais antigos de Paris.
Havia um pianista num canto enquanto os fregueses ficavam sentados contra as
paredes e no centro uma mesa com alguns atores que faziam uma espécie de talk
show, intercalado com músicas tradicionais francesas. Era também frequentado
por cafetões, anarquistas, estudantes e burgueses bem vestidos.
3.1.10 JD DE PLANTS E RUE MOUFFETARD
Neste dia fui ao Jardin des Plants, o que seria o nosso jardim
botânico, no 5º arrondissement. Era um
espaço enorme com vários prédios e estufas, além de um zoológico, um roseiral e
canteiros margeados por fileiras de plátanos e no centro o prédio principal, o
Museu Nacional de História Natural.
Em seguida a rue Mouffetard,
uma pitoresca rua de comercio popular e muita comida boa, onde comi
um Cassulet divino.
3.1.11.VIAGEM A VERSAILHES
Peguei o trem, o RER em Paris e desci na estação Versailles Château
– Rive Gauche e andei 10 minutos até o Palácio de Versailles. Na estação
conheci um médico peruano que estava fazendo residência na Espanha e tinha ido
passear em Paris.
No dia seguinte, à noite, fui com o Wilder, o
médico peruano, a um local para dançar salsa, chamava-se o Salsero. Terminamos
na Rue des Rosiers.
3.1.12.CURSO
NA ALIANÇA FRANCESA
27 de novembro – Comecei um curso de francês na Aliança Francesa. Descobria que além de melhorar o francês, fazer
curso em uma escola de idioma te permite ter um contato maior com a diversidade cultural da
cidade; as salas de aulas são organizadas de forma que não tenham mais de dois
alunos do mesmo país de origem. Na minha sala havia um israelense, um árabe,
uma chinesa, uma venezuelana, uma africana (não lembro de qual país). A
Africana tinha uma grande cicatrizes no rosto e eu, muito indiscreta, perguntei
o significado porque que pareceu que era algo tribal mas percebi que ficou
muito constrangida e mudei de assunto.
Não só constrangi a africana como” batia de frente” com a
Venezuelana, uma garota bonita, mas cheia de soberba – segundo ela o marido,
era um alto funcionário da petrolífera venezuelano e acompanhava ele que estava
em Paris à trabalho.
Certo dia fiz uma crítica ao árabe, disse-lhe que a cultura
islâmica oprimia as mulheres árabes, que o Islamismo permanecia na idade média
e precisava evoluir. WOW, como veem era a própria sincerissídia.
Minha crítica deixou a venezuelana indignada, que disse que era
falta de educação fazer uma crítica tão direta mas fui defendida pela
professora. Mostrando ela o que era uma civilização moderna e aberta,
democrática, que valoriza o debate de ideias. Diria mesmo que é um dos esportes
nacionais. Basta ver nos filmes franceses, como gostam de sentar nos cafés e
discutirem seus pontos de vista sobre arte, cultura, política, etc. Ao
contrário do Brasil e países do 3º mundo, eles não levam para o campo pessoal
que, como a venezuelana, consideram falta de educação
No último dia de aula
encontrei uma passeata e me disseram que as passeatas são também um dos
esportes nacionais, acredito que junto com o debate de ideas.
4. ITALIA
4.
ROMA E
VENEZA
29 de novembro – Final de novembro fiz uma viagem rápida
para Roma. Fiquei horas na fila, embora fosse baixa
temporada, para conhecer aquele que é o monumento mais icônico, o Coliseu.
Mais tarde, no hotel percebi que estava
com formigamento na mão e no pé e passei em uma farmácia pedir para ver a
pressão, mas estava normal e pensei, não deve ser tão grave.
Na Itália respira-se cinema, seus diretores e atores como Sofia
Loren, Giga Lolobrigida, Marcelo Mastroiani. Não estivessem todos mortos,
poderia torcer para encontrar alguns deles, mas foi nas fotos nos cafés e
restaurantes.
Depois de fazer
um passeio pela Villa Borghese e ver uma exposição de De Chirico fui passear na
famosa Via Condotti, maravilhando-me com a alta costura italiana. Embora ache
as italianas um pouco “peruas”, reconheço que na alta costura são mais
criativos que os franceses.
Dois dias depois peguei um trem para um bate e volta à Veneza
antes de voltar para Paris.
5. FRANÇA
5.1.
PARIS
5.1.1.DE VOLTA À
PARIS
02 de dezembro – Já em Paris peguei a rue de Cluny para ir até a Sorbone agendar
uma visita guiada à universidade. No caminho encontrei um livraria com livros
na calçada e uma loja de cachimbos - estou perto da Sorbone, pensei.
5.1.2. SURGE UM PROBLEMA
DE SAÚDE
04 de dezembro – A noite liguei para um
meu primo médico, no Brasil, preocupada com o formigamento na mão e pé, o que
fiz tarde da noite por causa do fuso horário, e ele me mandou procurar um
hospital pois poderia ser uma ameaça de AVC. Fui à ilha de La Cité onde havia o
Hôpital Hôtel-Dieu e imediatamente me encaminharam para fazer exames e como não
conseguiram um diagnósticos, queriam me internar para fazer mais exames. Quando
disse que iria ligar para a família e disseram que não poderia usar o celular,
disse que não, que não faria mais exame algum e estava indo embora. A
enfermeira que tirou meu sangue já tinha furado toda minha mão, chega, pensei.
Mas relutaram em me liberar e exigiram que assinasse alguns papeis dizendo que
saíra por minha conta e risco.
O Hôtel-Dieu é o hospital mais antigo de Paris, e foi fundado em
661, no séc.VII. Confesso que o prédio me parecia assustador e como, quando
cheguei no hospital não pegaram meu endereço nem qualquer contato e pensei:
caso ocorra algo de grave comigo como meus parentes iriam me encontrar aqui
neste hospital? Queria mais é ir embora ...
5.1.3. HÔPITAL DIEU E HÔPITAL SAINTE ANNE
No dia seguinte, de manhã fui ao Hospital St Anne, referência em
neurologia na França mas a médica não quis me atender porque havia abandonado o
Hôtel-Dieu. À tarde resolvi espairecer passeando pela Ilha de La Cité,
visitando uma exposição no La Concierge e uma exposição no Hotêl De Ville,
depois fui a um marché de natal em Maré e terminei fazendo um passeio de barco.
Mais relaxada resolvi que no dia seguinte ligaria para o seguro de saúde.
5.1.4.
UNIVERSITÉ SORBONNE-PARIS
05 de dezembro – Vinha tentando marcar
médico através do meu seguro de saúde e como já havia agendado uma visita
guiada à Universidade Sorbonne fui fazer a visita enquanto continuava
insistindo com a seguradora marcar uma consulta. Ficava falando constantemente
ao celular e fui admoestada pelo guia, piorando meu emocional, que já não
estava dos melhores.
A Sorbonne é do sec. XIII, o Colégio de Sorbonne foi fundado em
1253 e durante o sec. XVI envolveu-se com a luta intelectual entre católicos e protestantes.
Como reduto conservador católico e, em conjunto com igreja católica, condenou
500 obras impressas como heréticas entre 1544 e 1556.
Durante revolução francesa foi fechada, reaberta sob Napoleão em
1808 foi novamente fechada em 1895. Passou posteriormente a ser uma instituição
de estudos teológicos até 1793 quando criou-se o núcleo de humanas e na
primeira metade do sec XX dedica-se a várias áreas do conhecimento. Em 2017 há
um desmembramento em 5 universidade e 4 levam o nome original: Paris I
Panthéon-Sorbonne, Paris III Sorbonne-Nouvelle, Paris IV Paris-Sorbonne e Paris
V René Descartes que é a que tem o curso de medicina.
Após meses de conflitos entre estudantes e autoridades da
universidade ela foi novamente fechada em 1968. E, em 10 de maio a Union Nationale des Étudiants de France,
o maior sindicato estudantil da França e o sindicato dos professores convocaram
uma marcha para protestar contra a invasão policial da Sorbonne. Mais de 20 mil
alunos, professores e apoiadores marcharam em direção a Sobonne. Isolada pela
polícia que atacou empunhando cassetetes, houve barricadas e alguns atiravam
pedras da calcada obrigando a polícia a recuar. Centenas de estudantes foram
presos e, na manhã seguinte, Daniel
Cohn-Bendit enviou uma transmissão de rádio convocando uma greve geral. Dia
13 de maio, mais de um milhão de trabalhadores entraram em greve.
Cheguei
a ver um curso de francês na Sorbonne mas acabei optando pela Aliança Francesa,
não lembro se pelo preço ou qual outro motivo. Não época ainda não tinha feito
a visita guiada mas só conhecer suas instalações foi um deslumbramento, não sei
se é a universidade mais bonita do mundo porque de Oxford só conheci a
biblioteca e de Cambridge só conheci a capela. Só sei que anfiteatro e a sala
magna da Sorbonne foi um arrebatamento, fiquei pensando como seria assistir uma
aula ali.
5.2. RIVIERA
FRANCESA
5.2.1.
MÔNACO
06 de dezembro – Antes de voltar ao Brasil ainda fui a Riviera
Francesa, começando por Mônaco, depois fui a Cannes. A estação de trem de Mônaco era muito moderna e
interessante porque ficava encravada nas rochas.
Mônaco é uma pequena
baia com altas montanhas ao redor e muitos prédios subindo pelas encostas.
Desço e vou em direção à Monte Carlo. Monte Carlo é um distrito do
Principado de Mônaco, é onde ocorre o Grande Prêmio de Mônaco de Formula 1 e
fica o famoso Cassino de Mônaco.
.
Na foto abaixo a Ópera de
Monte Carlos e mais abaixo o Cassino
É
também onde estão os imóveis mais caros do mundo com o metro quadrado custando
48 mil dólares mesmo assim é também um paraíso da elite europeia porque não
cobra imposto de renda de seus moradores, além de ser seguro, embora você
precise gastar milhões de dólares para provar sua riqueza poder se tornar um
residente.
Além
de Mônaco, fui pesquisar quais outros países não cobram IR e achei, Nauru, no
oceano pacífico, mas que está desaparecendo graças ao aumento do nível do mar;
Omã, aí o problema é que você precisa de uma licença na delegacia de polícia
para comprar uma garrafa de vinha. Tem também o Catar, Vanuatu, Saara
Ocidental, etc. Resumindo, o melhor ainda é morar em Mônaco quando você se
aposentar
Como na Inglaterra onde há lojas com a grife da casa real, em
Mônico algumas lojas possuíam o selo da realeza. Estávamos em dezembro e todas
tinham uma bela decoração natalina.
Encontro no caminho um ponto de ônibus, pergunto se vai até o
palácio real e embarco. Foi a primeira vez que vejo um ônibus que abaixa-se
como um camelo para o passageiro subir isto devido a um sistema hidráulico. O
RJ já teve ônibus igual a estes mas estão tão sucateados que nada funciona.
Como no Brasil só pobre usa transporte coletivo não se investe nele.
Abaixo o palácio real do Principado de Mônaco e, no entorno belas
mansões e o Museu Oceanográfico, que não visitarei por falta de tempo.
O Mônaco é um microestado de 2,02 km2 fica a menos de 20 km de
Nice e 20 km de Vintemiglia, na Itália e tem a mais alta densidade populacional
do mundo, é uma monarquia constitucional; hoje o monarca é o Príncipe Alberto
II de Mônaco.
5.2.2.
RIVIERA FRANCESA - NICE
06 de
dezembro – Embora estivesse no litoral, para minha surpresa, soube que
havia nevado em Nice... Imaginem, neve na praia!
5.2.3.
RIVIERA FRANCESA
- CANNES
06 de
dezembro – Abaixo fotos do blv La Croisette e mais abaixo da praia que,
diferente de Nice que possui seixos, em Nice a praia é de areia. Confesso que
prefiro seixos porque a areia gruda no pé e tudo depende de você ter algo
adequado para sentar, que pode ser uma toalha acolchoadas ou mesmo colchonete.
Na foto abaixo o Palais des
Festivals et des Congrès onde ocorre o Festival de Cannes.
Terminava
meu passeio pela Riviera Francesa por Cannes onde dormiria antes de retornar a
Paris. Meu hotel não era nenhum Carlton mas tinha um elevador muito charmoso
como mostra a foto abaixo.
Fiquei
num hostel onde, por falta de vaga, me colocaram em um quarto junto com um
nigeriano gordo, enorme, que roncava feito uma locomotiva. Para minha
tranquilidade logo chegaram 3 italianos, todos com cara de bons meninos
(novamente, meus padrões burgueses 3º mundista!).
No
dia seguinte o gordo sentou ao meu lado no hall do hostel, conversamos bastante
e descobri que era professor universitário, muito gentil e educado, além de
culto.
Percebia,
assim, como era difícil livrar-me de alguns preconceitos, como julgar uma
pessoa pela aparência. Viajar é defrontar-se
com o novo, com o diferente o que nos permitindo compreender melhor as pessoas
e o mundo.
5.3. PARIS
08 de dezembro – Voltando a Paris a
seguradora mandou um taxi me pegar no hostel que me levou ao American Hospital of Paris que fez
alguns exames que se negou a fazer o exame indicado pelo St Anée sob o
argumento de que não havia indicação.
Embarcava no dia seguinte
para o Brasil preocupada com a recomendação da médica do Hospital St Anny de
que não deveria viajar de avião. Cheguei a pensar em voltar de Navio mas creio
que a pressa em voltar para casa me fez perder a chance de fazer uma longa
viagem de navio.
Nenhum comentário:
Postar um comentário