MARÇO 2019
Quando dizia que estava indo de mudança para o RJ ouvia, inevitavelmente, que deveria tomar cuidado com a violência, etc, etc... O que fazia lembrar do jornalista da Bandeirantes, Ricardo Boechat, que morreu recentemente em um acidente de helicóptero que, contam, levava um saco de balas para a redação e atirava nos colegas gritando: "olha a bala perdida!!". Tenho sempre vontade de fazer o mesmo quando ouço este tipo de comentário.
Mas, procurava não responder para não fazer meu discurso (chato, eu sei) sobre a Cultura da Violência explorada pelas redes de comunicação com fins de faturamento e que tem alimenta o discurso da extrema direita do país.
Quando a verdadeira violência é aquela que tenho observado pelas calçadas da cidade, fato que a mídia ignora.
Se cala porque não traz audiência, ou seja, não dá lucro falar da pobreza. O que audiência é falar de bandidos. O que também interessa ao discurso de vitimização da classe média, que num processo de denegação, quando a verdadeira vítima é o pobre - este sim, vive no meio de balas perdidas. Mas, o pobre ainda é também criminalizado, porque identificado com a bandidagem.
Schecaira (apud BAYER, 2013) Propagando o medo do criminoso (identificado como pobre), os meios de comunicação aprofundam as desigualdades e exclusão dessa parcela da sociedade, aumentando as intolerâncias e os preconceitos. Utilizam-se do medo como estratégia de controle, criminalização e brutalização dos pobres, de forma que sejam legitimadas as demandas de pedidos por segurança
A mídia também não fala sobre o maior problema do país: a grande diferença de renda entre o rico e o miserável - uma das maiores do mundo - nem sobre o fato de que a pobreza extrema vem aumentando e, em 2019 e já alcançou 21% ou esta em torno de 43,9 milhões de pessoas. É quase a população toda da Argentina, que é de 44,27 milhões.
16/03/2019
Além de viver enfurnada dentro das salas de cinema (*), fui também na FGV me informar sobre cursos. Estava interessada em Ciência Política mas o que encontrei de mais interessante foi um curso sobre cinema documentário. Ainda saberei mais sobre o conteúdo do curso.
Estive também na Escola Lacaniana de Psicanálise, que é ligada à Maiêutica (mais freudiana) de Florianópolis e não ao grupo que frequentava, mais Milleriano (de Jacques Alan-Miller, Uma linha mais ortodoxa).
Fiquei de voltar na sexta para assistir a um grupo de estudo sobre adolescentes e decidir se vou participar ou não.
(*) Assisti a filmes incríveis, como "A Favorita", Oscar de melhor filme estrangeiro. A atriz que faz a protagonista é de uma expressividade fantástica (lembrei de Izabelle Hupert em "A Professora de Piano" que com um olhar diz tudo), merecia o Oscar de melhor atriz. Mostra as intrigas da corte e os jogos de poder, onde vale tudo. Creio que não muito diferente da nossa corte em Brasília.
Surpreendente foi o filme italiano "O Rei de Roma". Não conhecia o diretor e entrei na sala de cinema sem esperar muito. Mas é uma comédia deliciosa, onde o protagonista, um multimilionário, é obrigado a conviver com um grupo de indigentes mas tem dificuldade em abandonar sua visão cínica e materialista do mundo e incapaz de enxergar a um que não ele mesmo. E na instituição onde vai parar é obrigado a ver um outro mundo, que ignorava.
Mas, de todos, o mais impactante foi "Cafarnaum" um filme libanês que concorreu ao Oscar e creio que por excesso de genialidade não ganhou. Lamentavelmente, porque é fantástico. Mas é também muito cru e realista, o que não faz o gênero dos americanos e por isto não recebeu premio algum. Mas, em Cannes recebeu a Palma de Ouro e foi ovacionado durante 15 minutos.
21/03/2019
Apesar da chuva que caiu hoje o dia todo, fui a ABL assistir uma palestra sobre Machado de Assis. Estavam lá Zuenir Ventura, o genial poeta Geraldo Carneiro e Nelida Piñon, entre outros. Fiquei sabendo que Merval Pereira, jornalista que costumo acompanhar na Globo News e na coluna do jornal O Globo, é acadêmico e Secretário-Geral da ABL.
Infelizmente, ainda não fui a praia. Agora com menos chance, porque diariamente tem caído uma chuva leve, intercalada rápidas saídas de sol, o que não anima muito à ir até a praia mesmo estando a uma quadra de casa.
22/03/2019
Hoje fui à Escola de Psicanálise assistir ao grupo de estudo sobre adolescentes. Lembrei a eles que Truffaut tem um filme belíssimo, autobiográfico, chamado "Os Incompreendidos" (cujo personagem,Antoine Doinel, é seu alter ego) que fala sobre adolescentes em situação de risco.
Pensei, mas não falei, que hoje a realidade é muito diferente do livro do Jorge Amado, "Capitães da Areia" um livro de 1930 que estão usando para seus estudos. Fiz algumas intervenções, muito de leve, sobre a questão da cooptação do tráfico, que acho que é a realidade atual. Mas eles não evoluem, o que é uma característico dos psicanalistas.
E, como sempre, nas reuniões de psicanálise, tem uns leigos que só falam abobrinhas e são uns chatos sem muita noção.
Por essas e outras o grupo não me atraiu mas foi muito bom ter ido porque me senti bem recebida e fui convidada para participar de um outro grupo, de leitura de Hamlet, de Shakespeare.
27/03/2019
Finalmente fui a praia, aqui mesmo no Flamengo, porque só vou para tomar sol mesmo porque o mar aqui é muito poluído.
Li no jornal O Globo de hoje que na Praça São Clemente teve um tiroteio entre policia e bandidos. É a praça por onde passava com frequência quando estava no Botafogo. Não gostava, mas tinha que passar por ela para ir a estação de metrô do bairro ou para o Cine NET Botafogo e o Cine NET Rio. Também para ir à Livraria Travessa.
Descobri que atrás da praça fica o Morro Da. Marta, um local conflagrado.
Nunca fui ao Corcovado porque são lugares de muita concentração de turistas e visado pelos bandidos. Leio, também, que houve um assalto a uma van de turistas no caminho do Corcovado.
Nunca achei que não tivesse violência no Rio mas que o problema deve-se ao fato que as favelas estão muito próximas dos bairros - os morros são uma extensão do asfalto - estão muito próximos.
29/03/2019
Carlinhos, o amigo da Célia que mora na Suécia, e tem um apartamento em Copacabana, quis que eu fosse lá conhecer seu apê. A rua é tranquila mas é Copacabana. Caminhando mais para o centro do bairro, vi muitos moradores de rua e muita sujeira.
Carlinhos vendeu um outro apartamento que tinha em Niterói e virá ao Brasil para efetuar a venda. Disse que me levará para conhecer muitos lugares, só espero que não me faça caminhar muito porque já ando com as pernas doendo. Ele e Célia, que moraram mais de 30 anos na Suécia, estão acostumados a andar muito já, eu,não tenho nenhuma resistência.
Hoje desisti de ir a ABL porque estou cansada para pegar um ônibus ou o metrô. Tem UBER, que é muito barato, mas também não resolve, porque tem os engarrafamentos. Talvez comprar uma bicicleta elétrica resolveria. Vou fazer uma experiência com essas que tem em toda parte e é só baixar um aplicativo para alugar. Vou ver como me viro.
Ontem fui a Marina da Glória ver um passeio de veleiro para o fim de semana, mas só tinha de escuna e não me interessou.
De lá fui até o MAM e, como tudo no Rio, chama a atenção a má conservação. No MAM foram os jardins. Vejam na foto acima, a altura da grama! Um jardim tão pequeno e nem assim conseguem cuidar!
Depois de 20 dias no Rio começo a ver os defeitos. Além do trânsito, e este foi imediato: comecei pegando UBER mas ficava a maior parte do tempo parada nos engarrafamentos. Depois passei a andar de metrô que, infelizmente, tem poucas escadas rolantes e quase nenhum elevador. Troquei pelos ônibus que ainda são a melhor opção mas, mesmo assim, são umas carroças velhas - um horror!
Mudando de transporte para alimentação: outro grande defeito do Rio é a comida. Come-se muito mal. A não ser que pague muito caro, a comida virá sempre sem gosto. Deve ser tudo pré-congelado ou, como os portugueses, não sabem fazer carne, que lá também não tem gosto algum.
Mesmo com todos este defeitos e, apesar de tudo, ainda continuo achando que o Rio é o melhor lugar do mundo para morar. A paisagem é linda, tem os museus (ainda que mal conservados), tem o Teatro Municipal que, depois de reformado está até lembrando a Opera de Paris. Tem também a sala Cecília Meireles , o Blue Note, os barzinhos da Lapa, os botecos, etc. Sem falar na enorme quantidade de salas de cinema. Enfim, boas opções não faltam por aqui.
30/03/2019
Tenho ido quase todo dia na FGV atrás da coordenadora do curso de cinema documentário e não consigo falar com ela.
Venho pensando se não poderia me tornar uma nova Agnès Varda, diretora e documentarista belga que morreu hoje com 90 anos (ela fez seu ultimo documentário aos 89 anos, o que significa que ainda tenho algum tempo).
Gostei de uma frase dela, Sempre lutei contra a estupidez, inclusive a minha. Preciso adotar.
Em cada extremos da minha rua - que não tem mais do que duas quadras - tem uma guarita e uma dupla de guardas fardados fazendo a vigilância. Hoje parei para conversar com eles que confirmaram que são contratados pelos condomínios. Mas acho esta parte do bairro Flamengo muito tranquila e, o que mais tem aqui, além de idosos, é muito muito cachorro - tantos que as calçadas cheiram a cachorro.
31/03/2019
Como hoje é domingo o aterro é fechado para os carro e muita gente vem andar de bicicleta aqui no Flamengo. O aluguel de bicicletas foi plenamente aprovado pelos cariocas e há um infinidade de estações de "laranjinhas" para alugar. Assim, criei coragem, baixei o aplicativo e segui para o aterro.
Mas não deu certo, não sei se o problema foi com o aplicativo mas não liberou. Tentarei novamente domingo que vem.