segunda-feira, 12 de setembro de 2016

PARIS 2009

DIARIO DE BORDO
29/11/2009
Cheguei à estação em Roma e fui procurar o guiche de informações e descobri que só abriria depois das 12h - senti que estava na Itálía. Deixei minha mochila na bagagerie e peguei um onibus para fazer um city tour. Desci no Colisseu e fui à pé até a Via Apia e depois ao Forum romano. É uma paisagem urbana muito diferente daquela que havia me acostumado. Paris é uma cidade planejada, sem a espontaneidade da capital italiana, que funde o verde com as construções antigas e tudo está alí esta disposto de tal forma, natural que só pode ter sido obra dos deuses. Aqui se respira história tanto quanto na França mas lá tudo começou na idade média enquanto que aqui, isto tudo já existia muito antes da era cristã.
Achei uma Benetton perto da Fontana di Trevi. E ainda com promoção. Oh, perdição!
Embora fizesse frio também não pude resistir ao famoso sorvete italiano. Depois segui a procura de um hotel porque não havia feito reserva e, numa cafeteria encontrei um casal de brasileiros que me recomendaram um  perto da estação. Apesar do preço bastante razoável, 40 euros, era bem confortável. Há tempos não dormia num colchão de mola, nem tinha uma TV de plasma no quarto e um banheiro só para mim. Um luxo. 
Amanhã verei a passagem para Veneza.
     
28/11/2009
Outro fato inusitado ocorreu quando perdi meus óculos escuros. Já pensava em comprar outro quando voltei uma feirinha próxima ao hostel e, quando estou experimentando um gorro, o feirante pergunta algo que tenho dificuldade em entender. Acho que me pergunta se posso retornar na próxima quinta-feira mas sou socorrida por um mexicano que me explica que ele quer saber se não estive lá na quinta passada e se não esqueci uns óculos escuros. 
Feliz da vida com meus velhos óculos, fui visitar o Panteão e o Pêndulo de Foucoult, ali mesmo no Quartier Latin.
Próximo à Sorbone encontro anúncios de venda de apartamentos. Conseguiria no máximo comprar um de 12 m2. 

25/11/2009
Hoje ocorreu um fato interessante durante a aula na Aliança Francesa. Fiz, ao colega árabe, uma crítica à religião muçulmana e a venezuelana me censurou. Deu a entender que era deselegante discutir certos assuntos, como religião. A professora prontamente, tomou minha defesa e disse que na França, pelo contrário, o debates de idéias era algo muito valorizado. Eu, que já simpatizava com ela, passei a amá-la e a todos os franceses.

24/11/2009
Estou me sentindo bem depois que voltei ao BVJ, o hostel do Quartier Latin tanto que estou quase desistindo de voltar ao Brasil. Oh, quem me dera ter um salário de 5 mil euros para viver aqui para sempre. Como acostumar-me novamente a vida pacata de Floripa?
Comecei um curso na Aliança Francesa. São 4h de curso, de segunda à sexta e você com a sensação que realmente aprendeu. É muito focado na fonética. Hoje irei mais cedo para almoçar lá, descobri que a comida é ótima e barata. Salada, sopa, prato principal e sobremesa por 9 euros enquanto que nos cafés você paga 15 euros pelo plat du jour. 
A turma é bastante eclética: tem uma nigeriana com uma cicatriz tribal no rosto, uma angolana meio "fora da casinha", 2 venezuelanas (uma bem patricinha), uma tailandesa, uma coreana, uma chinesa, 2 russas, um árabe, um americano e uma japonesa. A maioria de países emergentes, como o Brasil.
Encontrei também um monge budista que me falou que a Tailândia era um país democrático. Como eles vivem lá em mosteiros no alto das montanhas, nada sabem do que se passa no mundo abaixo dos seus pés.
Mas aqui o Brasil é visto com simpatia. O que ouço, normalmente é: "o Brasil está bem". Me perguntam com frequência se sou portuguesa. Há muitos por aqui, trabalham no comércio como balconistas. Já encontrei alguns trabalhando em farmácias, livrarias, etc. Como fazem parte da UE estão legais no país e tem facilidade em conseguir emprego aqui.

19/11/2009                                                                                                                Querida Leni, você é meu elo afetivo e o suporte de apoio para levar adiante esta aventura pelo velho mundo. Porque não é fácil estar num país estrangeiro, sozinha e sem dominar o idioma. Mas, entre custo e benefícios, este último é muito maior. Foi muito bom receber teu e-mail e agradeço muito pelo teu carinho. Repito ainda, tem sido muito importante para mim.

Conclui que vir para este apartamento na Rue des Rosiers não foi uma boa idéia. Na época estava preocupada porque no hostel só se fala inglês e também sentia falta de wi-fi. Mas, não só o wi-fi não funciona direito como na TV francesa quase só tem programa de auditória, o que é muito chato. Outro dia assisti a um westen dublado em francês e foi muito engraçado.
No hostel havia maior interação com as pessoas o que me permitiu fazer amizade com uma israelense e uma francesa de Lyon e aqui sinto falta desta troca. Aqui, no máximo dou bonjour e bonsoir aos vizinhos.
Mas o mais difícil tem sido tomar banho pois a água quente desliga depois de 5 mtos. Não dá para tomar banho e lavar a cabeça, tenho que lavar a cabeça de manhã e tomar banho a noite. As duas coisas ao mesmo tempo é impossível.
Quando comuniquei ao judeu que iria embora, ele resistiu a me devolver o dinheiro (havia pago um mes e estava saindo com 18 dias) mas acabou concordando porque, segundo ele, eu gastava muita água e estava dando muita despesa. Vou embora do bairro com uma péssima impressão dos judeus ortodoxos porque são extremamente sectários.
Resolvi voltar para o hostel no Quartier Latin, que embora mais fuleiro que o Mije, foi o mais acolhedor.


18/11/2009
No início da Champs d'Elysées fica o Petit e o Grand Palais, também a residência oficial da bela Carla e seu marido Sarkosy, o Palais Elysées, o espaço Pierre Cardin. Pretendia ir a todos estes lugares mas só consegui ver, no Grand Palais, a exposição
"De Byzance á Istambul". Cara, 11 euros o ingresso, mas valeu a pena porque tinha uma produção como jamais vi, com um acervo riquíssimo de roupas, jóias, móveis. tinha até uma tenda de um sultão e a réplica do domo de uma mesquita, com   música bizantina. Tudo de um luxo e beleza indescritível. Sublime talvez seja a palavra certa. . O ingresso ainda incluía palestras e filmes sobre o império bizantino e otomano. Infelizmente era proibido tirar fotos, mesmo sem flash.  
Depois segui pela avenida, ainda sobre o impacto da exposição que acabava de ver.
Começam a montar as feirinhas de natal. Terei que voltar para comprar alguns enfeites para levar de presente. Portanto, não se preocupem, não levarei sombrinha com o desenho da torre Eiffel.

17/11/2009
Amanhã devo voltar ao Quartier Latin, no Autre Bistrô, que fica ao lado de um hostel onde me hospedei e frequentava quase diariamente, onde vai cantar uma brasileira e depois irei a um show de jazz em outro bar.  E me dei conta que preciso de roupa para sair a noite, como não trouxe fui a Benetton onde comprei uma saia por 39 euros, barata para nossos padrões. 
A loja fica na Rue des Grands Magazines onde esta também a Galerie Lafayette e a Printemps, que já estão decoradas para o natal. As vitrines são belíssimas, com bonecos animados e muito luxo. As fachadas também estão lindas, muito iluminadas o que torna a cidade luz mais deslumbrante.
A demain
bisous

13/11/2009
Faltam só três semanas, embora ache que passou rápido, sinto também que começo a cansar, que a disposição para enfrentar as dificuldades da língua e da cultura é menor. Percebi isto hoje ao tentar comprar um pen-drive. Não conseguia ser entendida até que descobri que aqui chama-se cruzer USB. Tentei explicar que era para usar no CP, esquecendo que o nome correto aqui é Ordinater. Ufa, quanta dificuldade! Queria também uma caneta, uma simples BIC. Essa é fácil pensei: é só pedir un stylo. Mas, ledo engano, só consegui comprar uma prosaica caneta quando fui a FENAC. Porque 
aqui só tem boutiques, cafés, boulangeries, floriculturas, coiffiers, farmácias e nenhuma loja 1001 ou de 1,99, ou mesmo um supermercados destes nossos, que tem de tudo. Não é muito fácil a vida de uma ´"manézinha" em Paris, como podem ver.
Em compensação, a noite fui ao Louvre assistir a uma palestra do Umberto Eco. Ele falou em francês e deu para entender um pouco. Ele falou sobre a interpretação da obra de arte aberta. Ele é baixinho, gordinho e muito simpático e os franceses batem mais palmas que os brasileiros, são bem empolgados também.
Depois fui ao Lapin Agile, em Montmartre. É um lugar fantástico, um cabaré onde ocorre reuniões literárias e musicais. Você entra, pegam teu casaco e te guiam até o andar de cima e senta-se junto aos outros clientes em bancos nos encostados às paredes, com mesas à frente e, no meio da sala, uma mesa maior onde sentam os atores. O show é excelentes, eles cantam, declamam poema e contam piadas. É um grande sarau. Ao canto um pianista toca musicas de Piaf e canções populares francesas que o público, entusiasmado acompanha. A luz é vermelha dando ao ambiente um ar de cabaré anos início século passado, bem estilo é art nouveau. 
    
11/11/2009
Decidida a voltar antes para o Brasil saí, hoje, a procura de uma loja da Air France/KLM para transferir minha passagem mas descobri que aqui é feriado, final da segunda guerra e todas as lojas estão fechadas. Também nas segundas poucas lojas abrem e nos demais dias da semana, somente à partir das 11 da manhã e ficam abertas até as 20 horas. Na Rue de Rosiers, em Marais, onde estou morando, algumas fecham entre 12h e 14h30. 
Na volta para casa, encontrei uma loja de calçados que estava aberta com uma promoção de botas, encontrei uma forrada de pele, maravilhosa à 39 euros. Mas, o fantástico foi me livrar dos sapatos velhos que estava massacrando meus pés. Estava tão feliz que, decidida a doá-los a um mendigo, não lembrei de tirar as caras palmilhas de lã que havia colocado neles. Dizer que alguma coisa é cara aqui, é o óbvio, porque tudo é muuuiiito caro. 
Queria falar dos mendigos de Paris, porque há muitos deles nas calçadas e metros. Geralmente tocam algum instrumentos e depois pedem dinheiro. Tem também aqueles que ficam de joelhos, mulheres com bebes no colo. Há um que fica na cabeceira da ponte com dois cachorros, aos quais dedica enorme atenção. A maioria vem dos Balcãs e do Afganistão e existe uma máfia por trás explorando estes imigrantes. Nunca dei dinheiro, mas é difícil não sentir culpa, mesmo sabendo que o dinheiro vai para a máfia. Talvez por isto tenha me sentido tão bem ao dar o sapato ao mendigo, só não precisava ter dado com a palmilha.
No Brasil vi um filme francês sobre a máfia da mendicância em Calais, onde o número de imigrantes é muito maior.
Acabei o dia indo a Montmartre e a Place du Tertre, a praça do retratistas e pintores. Sempre quis ter uma caricatura minha e paguei 10 euros, que foram parar na primeira lixeira. O autor não era um Paulo Caruso (aquele do programa Roda Viva, da TV Cultura). Passei em frente ao Moulin Rouge, no Bas Montmartre e havia uma faixa de protesto do funcionários, denunciando que estava ameaçado de fechar por dívidas.

10/11/2009
Aqui o tempo é muito estável, pode até chover mas nunca é como nossas chuvas sub-tropicais, aquele aguaceiro, aqui chove fraco e no outro já faz sol.  Hoje aproveito o belo dia de céu azul e vou ao Jd des Plants, um jardim botânico enorme com vários museus dentro: de biologia, historia natural, historia da evolução, etc.
Depois fui a Rue Mouffetard, uma rua enorme, muito simpática, cheias de lojinhas, bistrôs e fruterias. Almocei em um dos bistrôs, famosos pelos fondue e racletes. 
Me demorei bastante porque tinha Internet. Aqui nunca se sabe, um dia funciona bem e no outro não - é ça marche/ pas marche. Provavelmente não poderei falar com a família no dia da reunião da nossa reunião e mandarei uma mensagem a todos através do Flavio.   
A demain. Bisous

09/11/2009
Fui a Sorbone fazer minha inscrição no curso de francês. Vou ter que apertar o cinto e parar de comprar presentinhos e visitar as brocantes, que são as feirinhas de artesanatos, comum nas maiorias dos bairros da cidade.
Em seguida visitei o Museum des Moyen Âge ou Museum Cluny, sobre a idade média na França. É uma bela mansão medieval construída pelos romanos, com suas divinas termas.
Saindo dalí fui andando pelo bairro e entrei na Rue St. Paul, só de antiquários onde encontrei os puxadores, que na "Aroeira", em Bal. Camboriú custam 80 reais, aqui paguei 6 euros. Como veêm não é fácil resistir.  
Em Paris há espaço dedicado a O. Niemayer onde esta tendo uma exposição sobre os irmãos Campanas. Mas acabei optando por ver outra sobre o Afeghnistão. Assisti ao filme Kandaar, impressionante o atraso do país. Mas o assunto do dia na TV é o aniversário da queda do muro de Berlim, com muitas entrevistas e debates.

08/11/2009
Meu Deus, é mutia coisa para ver nesta cidade, nem uma existência toda permitiria ver tudo. Cada quadra é mais um museu, um teatro, uma galeria, uma igreja para ver. Só de teatros são 92 grandes, mas os maiores são o Operá Garnier e o Bastille. Muitos prédios que eram moradia da antiga elite, e aqui são chamados de hôtel, foram transformados em museu (portanto não pense em se hospedar no Hôtel de Sully, porque é um museu). A cidade inteira respira história, num prédio morou Abelardo e Heloísa, mais adiante outro o escritor tal e, na Rue des Rosiers há placas dizendo que fulano foi deportado por nazista e morreu em campos de concentração.
Hoje, fico por aqui
Au revoir 

29/ 10/2009
Estou no Café Frambroasy enviando e-mails aos amigos do Brasil e ouvindo ópera. Chiquérrimo, só mesmo em Paris!
Sempre gostei de filmes franceses e estou reencontrando lugares que serviram de cenários de filmes, como uma escola de judeus em frente ao hostel onde estou hospedada, em Marais. Creio que o filme é de Louis Malle que fala de crianças judias, deportadas pelos nazistas que morreram nos campos de concentração. Na frente da escola há uma placa em alusão ao acontecimento.
Ontem, na frente da sinagoga encontrei dois judeus ortodoxos, com suas trancinhas e kipás, enquanto da casa ao lado saia uma africana também com suas roupas típicas: turbante e túnica muito coloridas. Tentei tirar uma foto enquadrando os três personagens, mas a mulher andava rapidamente e não consegui registrar a cena. Queria mostrar essa diversidade cultural tão presente nas capitais da Europa.
Mais tarde na Printemps, um dos maiores magazines da cidade, vi uma muçulmana 
de burca e quando fui tirar a foto, ela fez um gesto indicando q não e virou-se de
costas – estava com o marido Al Quaeda do lado e desisti.
Moro numa rua super calma onde nunca passa carro e, além da escola e do Café Franboyse, não tem mais nada. Para chegar pegar o metrô na Rue de Rivoli na passo por uma passagem estreita onde tem um apartamento térreo cuja janela da sala não tem cortinas (como na maioria dos apartamentos parisienses) o que permite ver seu interior cheio de pratos nas paredes, bibelôs e enfeites. Quando vi a primeira vez fiquei fascinada e pensei no tempo que a dona da casa ou, se tiver uma faxineira, leva para tirar o pó de tudo.
O mais interessante ainda é a velhinha que está sempre ali, sentada na sua bergère, de costas para a janela, assistindo TV. Pensei em pedir licença para tirar uma foto, mas com receio que não entendesse meu pedido, optei pela indiscrição e “cliquei” a cena com a velhinha, que nem se mexeu, continuando com os olhos fixos na TV – parecia o cenário de filme.
Creio que vou mudar o título do blog para “uma voyeur em Paris”.
São tantas coisas que me encantam em Paris: os tocadores de caixas de música nas ruas do Quartier Latin, os booknistes das margens do Sena, as fruterias e as mercearias – Paris é o paraíso dos gourmets. A exposição dos frutos do mar na frente dos restaurantes – em muitos deles o chef prepara o prato ali mesmo.
É incrível que, com uma culinária maravilhosa como é a francesa, não se encontre pessoas obesas, são todas elegantérrimas. Talvez seja porque andam muito a pé ou a alimentação muito natural, confesso que não sei.
Outra coisa que adoro em Paris é o cabelo das parisienses. Cada cabelo grisalho que encontro vou logo fotografando. São lindos, bem cortados, sedosos, com brilho. As parisienses são très très elegantes e femininas e também muito natural, não pintam as unhas e usam pouca maquiagem.
Porém, essa minha atividade de voyeur por Paris está acabando com meus pés. Preciso tirar uns dois dias só p descansar porque as dores nas solas dos pés, nas pernas e quadril é tanta que preciso tomar uma Arcóxia (vim prevenida e trouxe várias caixas).  
Por sorte minha fase turística está chegando ao fim, depois entro em uma nova fase, sem tantas caminhadas e passarei a curtir teatro, concertos e cinema, o que não tenho feito porque a noite estou sempre cansada.
Bem, vou encerrar o capítulo de hoje me desculpando pelos erros, pois, como escrevo em cafés não há tempo p fazer correções, caso contrário ficaria intoxicada com todos os cafés que teria que consumir.
Au révoir et bisous

Tiza
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08/11/2009

Ontem fui novamente ao Café Franboyse p assistir a um show de jazz e encontrei umas brasileiras que me convidaram para ir ao Favela Chic para ouvir música brasileira, na Place de La Republique. Já tinha ouvido falar e estava curiosa para conhecer. A decoração é nordestina e o cardápio vai de virado à paulista à mandioca frita. Estava lotado, mas a clientela brasileira não chegava a 50%. A companhia não agradou muito e fui embora logo.

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